A inteligência artificial deixou de ser uma promessa para se tornar presença quotidiana nas organizações. Já não é futuro: é infraestrutura. Está a transformar funções, a redefinir competências e a desafiar modelos tradicionais de liderança. Mas à medida que a tecnologia avança, é a liderança, e não os algoritmos, que continua a determinar a forma como vivemos, decidimos e trabalhamos. Segundo o Global Workforce of the Future 2025, realizado em 31 países, incluindo Portugal, 60% dos profissionais portugueses acreditam que a IA está a criar mais empregos, e 69% sentem que as suas funções estão em evolução. No entanto, apenas 38% afirmam sentir propósito diariamente, e a confiança na IA situa-se nos 3 em 10, abaixo da média global. Estes números confirmam uma realidade: a tecnologia progride rápido, mas a confiança humana não acompanha o mesmo ritmo.
Liderar na era da IA é mais do que dominar tecnologia, é inspirar pessoas a crescer com ela. Liderar hoje não significa apenas conhecer ferramentas, dashboards ou processos automatizados. É garantir que a tecnologia não aprofunda desigualdades, mas funciona como motor de inclusão, eficiência e desenvolvimento — especialmente num país onde, segundo o OCDE Skills Outlook, 35% da força de trabalho corre elevado risco de automação. Ser líder é cultivar equipas que se sentem vistas, ouvidas e valorizadas, num tempo em que a inteligência é artificial, mas a motivação continua profundamente humana. Implica escuta ativa, comunicação clara e criação de ambientes seguros, onde o erro é entendido como parte do processo de aprendizagem e crescimento.
A liderança ganhou uma dimensão ética sem precedentes. Quem lidera hoje precisa de gerir ferramentas que aprendem, influenciam e decidem, definir limites claros para o uso da tecnologia, garantir transparência e explicabilidade, proteger a privacidade e os dados e assegurar que cada avanço é inclusivo, justo e responsável. Num contexto em que 82% dos CEOs globalmente afirmam que a IA já está a alterar os seus modelos de negócio (PwC 2025), a questão central já não é “usar ou não usar IA”, mas como usar a tecnologia sem perder a confiança das pessoas.
Mais do que nunca, liderar é formar equipas, promover talento interno e construir culturas de aprendizagem contínua — especialmente num mundo onde 44% das competências que usamos hoje serão diferentes em 2028 (World Economic Forum). Mas há uma competência que nunca muda: a capacidade de liderar com humanidade. Porque é essa humanidade que cria confiança. E sem confiança, não há transformação.
Automação cria eficiência. Dados criam previsibilidade. Mas é a liderança que cria direção, cultura e sentido. Os líderes que conseguirem unir dados e emoção, automação e propósito, produtividade e significado, serão os que verdadeiramente prepararão as suas organizações para o que vem a seguir. Se a inteligência artificial está a reconfigurar o “como”, cabe à liderança reimaginar o “porquê”. É nesse espaço — humano, estratégico e ético, que se decide o verdadeiro futuro do trabalho. Só com direção humana será possível construir um futuro onde a tecnologia potencia o melhor das pessoas — e não o contrário.

