As grandes transformações do século XXI têm um certo paralelismo com o movimento reformista, sistémico e multidisciplinar do Renascimento, que teve início em Itália no século XIV e se estendeu por toda a Europa até ao final do século XVI. É interessante analisar a correlação, em todas as suas dimensões, deste movimento com as estratégias atuais de Branding e Marketing e as forças de resistência a toda esta transformação.
Humanismo – O Renascimento foi também um movimento cultural caracterizado pela sua preocupação em realçar o potencial de desenvolvimento do indivíduo e a sua valorização enquanto ser humano. No século XXI, esta dimensão traduz-se, no Branding e Marketing, em foco na personalização dos produtos e da comunicação para as necessidades e preferências do consumidor final. A capacidade analítica, possibilitada pelas tecnologias digitais, permitiu às empresas e outros organismos entender os seus clientes por forma a criar experiências de marca únicas.
Arte – O Renascimento foi marcado pelo aparecimento de obras de arte de grandes mestres como Leonardo da Vinci e Michelangelo. Hoje, as empresas preocupam-se com a estética da sua imagem. Investem fortemente em Design e na criatividade dos seus logos, websites e embalagens como elementos diferenciadores, com a necessidade de capturar a atenção dos seus clientes ou consumidores.
Inovação e Tecnologia – Tal como no Renascimento, que foi palco de grandes inovações tecnológicas, onde a imprensa mecânica revolucionou a forma de comunicar e a possibilidade de disseminar conhecimento, também no século XXI, o aparecimento da Internet, Social Media e E-Commerce transformou a forma como as empresas puderam chegar e interagir com as suas audiências. O advertising Digital, a realidade virtual e estratégias assentes em Inteligência Artificial, são exemplos de como a inovação molda as estratégias de marketing.
Intercâmbio cultural e Globalização – Os Descobrimentos, a imprensa escrita e o aumento do comércio entre diferentes pontos do Mundo até aí desconhecidos da Europa permitiu espalhar novas ideias e conhecimento durante o Renascimento. Da mesma forma, no século XXI, a Internet abriu novos mercados e oportunidades às marcas que deixaram de estar limitadas a barreiras geográficas para passarem a comercializar os seus produtos e serviços de forma global. Como consequência, as marcas tiveram de se adaptar e reconhecer a importância do contexto local de cada mercado e ser sensíveis aos seus aspetos culturais nas suas ações de marketing.
Narrativa e Literatura – No Renascimento assiste-se ao ressurgir de uma narrativa envolvente e elaborada na Literatura. Da mesma forma, atualmente, contar histórias é uma parte essencial do content marketing para interagir de forma eficaz com as audiências que procura atrair. A utilização de blogs, Social Media, vídeo, são meios que permitem às marcas interagirem com os seus consumidores de forma mais profunda e diferenciada recorrendo a narrativas que sejam atrativas.
Educação – Como se viu nas dimensões anteriores, o aparecimento das máquinas de impressão facilitou a partilha de conhecimento em todo o período do Renascimento e foi uma das prioridades deste movimento. O Marketing moderno também assenta na produção de conteúdo educacional e na liderança de opinião para atrair e reter a sua audiência nas diversas fases do funil de compra. As marcas investem para se posicionarem como especialistas nos seus campos de atuação através de eventos educativos, como webinars, e-books, artigos de blog e outros meios digitais ou presenciais para criar autoridade de marca e atrair a confiança dos consumidores.
É interessante analisar a correlação, em todas as suas dimensões, deste movimento com as estratégias atuais de Branding e Marketing e as forças de resistência a toda esta transformação.
Colaboração Interdisciplinar – Durante a Renascença foi prática comum a colaboração entre artistas, cientistas e pensadores para criar inovação. A consciência da multidisciplinaridade para inovar levou mesmo a que alguns cientistas fossem simultaneamente artistas e pensadores. Atualmente, as empresas também começaram a tomar consciência de que para proporcionarem experiências de marca holísticas junto dos seus consumidores, também necessitavam de ter um marketing interdisciplinar envolvendo a colaboração entre design, tecnologia, data science, produção de conteúdo e capacidade de execução para atingir objetivos de negócio.
Todos os movimentos de transformação encontram forças de resistência para equilibrar o status-quo e o século XXI não é diferente nesse ponto. As assimetrias sociais, políticas, religiosas, movimentos anti-globalização, autocracias restritivas e regulação procuram limitar ou mesmo reverter a transformação em curso. A Inteligência Artificial, se por um lado aditiva a capacidade criativa humana, por outro lado procura remover a interação humana para aumentar a produtividade e coloca em causa uma parte da dimensão humanística da transformação. Como em tudo, no final encontraremos um novo equilíbrio que estará num patamar superior de desenvolvimento.
Este artigo foi publicado na edição de outono da revista Líder. Subscreva a Líder aqui.