Num tempo em que a geopolítica se cruza diariamente com a economia, as empresas já não podem ignorar o impacto da instabilidade mundial nas suas estratégias. O futuro exige um novo tipo de pensamento e lideranças capazes de lidar com a realidade neo anormal em que vivemos, criando novas regras para um tabuleiro em constante mudança.
«O que as empresas precisam, em particular, é desta ideia de ter alguém a um nível sénior que compreenda claramente a cena política, a cena geopolítica e a cena geoeconómica – um Chief Political Officer (CPO)», defende Sean Pillot de Chenecey.
O Autor e Futurista britânico passou pela Leadership Summit Portugal 2025 para debater a importância e necessidade de trazer estes conceitos para o centro das empresas. Para tal, trouxe ao palco da 9ª edição da cimeira a talk Politics and the Future of Business (Say Hello to the ‘Chief Political Officer’).
Para o especialista, essa nova função deve assumir a forma de um líder que «aja como um navegador de futuros, um criador de sentido, alguém que possa unir os pontos e funcionar como um dispositivo de aviso antecipado.»
O fim das certezas
Durante demasiado tempo, as empresas trataram a política e a geopolítica como «ruído de fundo». «Algo que pode ser observado, lido ou anotado nos media, mas que, quando chega o momento do negócio propriamente dito, é quase ignorado», lamentou.
Sean reforçou ainda a relação «desajeitada» entre empresas e governos, onde «os políticos, quando interferem com os negócios, tendem a fazê-lo de forma incrivelmente confusa», e onde «muitos líderes empresariais queixam-se de que os políticos não compreendem as realidades do negócio».
Mas hoje, com a erosão da confiança, as empresas enfrentam riscos novos e interligados: desinformação, ciberespionagem, desigualdade, alterações climáticas, declínio da saúde e do bem-estar.
Sabemos que o coração e a base de qualquer negócio, de qualquer marca, é a confiança. Não podemos operar sem confiança entre indivíduos, famílias, clientes e empresas
A ausência de uma liderança focada neste contexto tem custos reais. Sean citou o exemplo da Jaguar Land Rover, que recentemente sofreu um ataque cibernético maciço, com perdas superiores a 250 milhões de libras (286,3 milhões de euros) por mês. «Uma organização que não tinha seguro contra um ataque de cibersegurança teria estado mais bem preparada se tivesse alguém que compreendesse os tipos de risco e o seu nível», observou.
Pensar o futuro em cenários
Para Pillot de Chenecey, o papel do CPO é o de antecipar cenários e unir pontos entre fenómenos aparentemente dispersos.
Recorreu a modelos clássicos de pensamento prospetivo, como o ‘Four Futures Framework’ de Jim Dator, que permite analisar o futuro através de quatro prismas: crescimento, restrição, colapso e transformação. «É um ponto de partida simples para definir um cenário, compreender as ligações políticas, sociais e económicas e como impactam o negócio», explicou.
Outro conceito importante é o ‘Futures Triangle’ de Sohail Inayatullah, que ajuda as organizações a analisar três forças simultâneas: o peso da história, a pressão do presente e a atração do futuro. «Cada negócio pode olhar para o futuro e perguntar: como chegámos aqui, o que nos está a pressionar e que sinais emergentes nos podem guiar?», explicou.
Apesar destas ferramentas, Sean lamenta que «apenas 1% das organizações trabalhem com horizontes superiores a dez anos». «A maioria continua focada no curto prazo, ignorando os riscos estruturais que se acumulam no horizonte», advertiu.
Liderar com antecipação
Para o futurista, as empresas precisam de líderes antecipatórios: «Líderes que coloquem em prática organizações e culturas que incentivem a transparência, a colaboração e a cooperação são absolutamente essenciais.»
Contudo, reconhece que, apesar de se falar muito em colaboração, «poucas organizações o fazem genuinamente». O Chief Political Officer, defende, deve ter a missão de «ajudar a navegar por este mundo complexo, ligar os pontos e lançar luz sobre o caminho a seguir.»
No centro desta abordagem está a confiança. «Para que um líder seja confiável, primeiro tem de ser vulnerável. Tem de admitir as suas falhas e erros, porque ninguém confia em alguém que é perfeito», explica. Pillot de Chenecey lembrou que a confiança «é conquistada, não dada», e que «leva tempo a construir, mas é incrivelmente fácil de perder.»
Um novo papel para um novo mundo
Ao longo da palestra, o futurista reforçou que o Chief Political Officer é mais do que um cargo técnico, é uma figura estratégica que garante que as empresas não temem o futuro e o enfrentam com clareza e propósito.
Precisamos de colocar em prática uma liderança antecipatória. Precisamos de elevar um responsável geopolítico ao C-suite porque o que ele pode fazer, ajudando as organizações a não temer o futuro, mas a caminhar em direção a um futuro preferido, é orientá-las, unindo os pontos e iluminando o caminho a seguir
A mensagem final foi um apelo à ação: num mundo em transformação acelerada, o sucesso empresarial dependerá da capacidade de compreender o contexto político e agir com visão. «As antigas regras deixaram de funcionar. Precisamos de novos mapas e de novos líderes para os desenhar», declarou.
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