Até ao dia das eleições legislativas, 30 de janeiro, a Líder vai publicar diariamente as opiniões e contributos de várias personalidades a quem foi lançado o desafio de responderem à pergunta: O que precisamos mudar?
Homens, mulheres, jovens, seniores, caucasianos, negros, crentes e não crentes, qualquer que seja a orientação sexual terão a sua opinião na Líder e serão capa.
Na Líder a capa é de todos.
Mafalda Ribeiro é Autora, Consultora de Inclusão e Palestrante.
“Vai-se andando…”, para onde?
Pode-se pensar que o povo português é aquele que mais anda. É que quando se pergunta a alguém: “como estás?” a resposta é quase sempre um “vai-se andando” ou “vai-se indo”, por vezes acompanhado de um ar cabisbaixo, como que conformado com o morno da vida.
O que na verdade querem dizer é que enquanto “nada anda”, o melhor é ficar parado à espera “que a coisa mude”. E do alto da mudança que até desejam, preferem o queixume do dia-a-dia ao verdadeiro ato de mudar. Afinal, não são as pessoas que andam, mas sim os lamentos que dão grandes passeios a pé a partir das suas bocas.
“Vai-se andando” é, em algumas vezes, o mesmo que deixar no ar a ideia de que não depende de nós outro tipo de passo, é uma espécie de vitimização concentrada que depois daquilo que lhe adicionarmos fica, mais ou menos, forte, é uma aceitação da nossa condição em tom “calimero” e a transferência automática da culpa ou da responsabilidade do que (nos) acontece para os outros.
E quem não anda? Não porque não quer, mas porque não pode. No meu caso, uso a palavra obrigada como o motor de arranque para tudo na vida, independentemente das circunstâncias. Insurjo-me contra o queixume permanente, até o das minhas micro irritações circunstanciais, porque acredito que não são as limitações exteriores, nem mesmo as que nos dizem ser nossas, que têm a capacidade de determinar os nossos limites. O segredo para “rodar”, de uma forma agradecida, nos caminhos que a vida nos oferece é a conjugação diária de parar de reclamar de tudo, e de nada, e de não permitir que a certeza da nossa identidade, a lucidez do nosso potencial, e a crença do quão amados somos, arrefeça.
E quem não se levanta? Não, porque não quer, mas porque não pode. Usa o amor dos que empurram, levantam, incentivam, animam, constroem, nutrem e acrescentam como combustível para que a gratidão não tenha limites. Nós não somos aquilo que nos falta e não podemos viver continuamente à espera que os outros sejam os responsáveis pelas mudanças que queremos ver. Se é para responder “vai-se andando” que saibamos para onde vamos, que o façamos de facto por convicção, em vez de caminharmos à deriva no passeio das emoções, que é o mesmo de não sair do mesmo sítio.
A Liderança em que acredito, baseada no serviço e não na força, é um constante caminhar com o outro. Olhar para o modelo de liderança de Jesus lembra-me constantemente que o “vai-se andando”, a pé ou de rodas, só faz sentido quando não é um fim em si mesmo, mas traz em si uma finalidade. Sempre considerei que as pessoas têm de vir à frente das tarefas, por isso a única forma de assistirmos a mudanças nos comportamentos, que terão impacto nos resultados, que levarão o país a melhores portos, será quando cuidarmos verdadeiramente das pessoas com quem nos relacionamos nas várias esferas da vida.