Duas mulheres, duas perspetivas que partilham ideias e refletem sobre o desafio das empresas, com os olhos no futuro e num novo ano que se aproxima. Ana Amélia Santos é Head Estudos e Projetos da EPAL e Carla Viana é Diretora Comercial de E-commerce Sonae MC.
Uma dupla de conversas parte das mesmas perguntas, onde dois pontos de vista convergem para o foco do papel das lideranças, pelo exemplo e inspiração, e o desafio do positivismo, da paz e da estabilidade entre um Mundo desequilibrado e em guerra. Hoje publicamos a segunda conversa, de um conjunto de seis, que fazem parte do projeto editorial Promova | Líder.
O país chega ao final do ano entre duas guerras na Europa e uma profunda crise política interna. Qual o papel das empresas na estabilidade e garantia de um rumo positivo na vida das pessoas?
Ana Amélia Santos (AS): As empresas desempenham um papel fundamental na construção e manutenção da estabilidade em um país, não apenas gerando crescimento económico, mas também contribuindo para o bem-estar social e político. A combinação de práticas éticas, responsabilidade social e inovação pode ser um catalisador para um futuro mais positivo e estável. Parcerias entre empresas e governo podem ser benéficas para a formulação de políticas que promovam o desenvolvimento económico e social. Essa colaboração pode ajudar a enfrentar desafios sistémicos e promover a estabilidade.
Carla Viana (CV): Acredito que as empresas podem ter um impacto positivo na vida das pessoas, mesmo em contextos de elevada instabilidade e constante disrupção como os em que vivemos. Para isso, é necessário que se mantenham próximas do contexto humano em que operam, para compreenderem a cada momento as necessidades, desafios e aspirações dos seus clientes, colaboradores e comunidade em que estão inseridas. Ao mesmo tempo, é fundamental que desenvolvam uma cultura de desafio permanente do status quo e agilidade para criar oportunidades e levar a cabo iniciativas com impacto. Dito isto, as empresas são as pessoas que lá trabalham e o papel das empresas é em grande parte, o papel das pessoas que as lideram.
Que pilares não devem ruir?
AS: Alguns dos pilares que considero essenciais para garantir a coesão social, estabilidade e um rumo positivo na vida das pessoas, bem como o desenvolvimento económico e a resiliência do país, são: Segurança jurídica para os cidadãos e as empresas; Respeito pelos direitos humanos de forma a não minar a coesão social e a estabilidade do país, numa base de tolerância, respeito à diversidade e inclusão; Políticas económicas equitativas, controlando a inflação e promovendo oportunidades económicas para as diferentes gerações; Educação de qualidade para preparar as gerações futuras e garantir uma força de trabalho capacitada; Segurança, especialmente nos tempos que correm de conflitos externos; Sustentabilidade ambiental, preservando para as gerações futuras e para a resiliência do país diante de desafios globais; Integridade das instituições de modo a garantir que as oportunidades económicas sejam distribuídas de maneira justa.
CV: Otimismo racional, isto é, a capacidade de vermos o mundo tal como é aliada à confiança de que somos capazes de criar, de construir e de o evoluir. E a visão a longo prazo, privilegiando o crescimento sustentável em detrimento de ganhos de curto prazo.
As pessoas são aquilo que fazem. A sua profissão define-as. Concorda?
AS: A profissão de uma pessoa desempenha um papel significativo na sua identidade e ocupa uma parte importante das suas atividades diárias. No entanto, é importante lembrar que as pessoas são seres complexos e multifacetados e que a sua identidade não deve ser reduzida apenas à sua profissão. As pessoas desempenham vários papéis na vida, incluindo os de pais, filhos, amigos, membros da comunidade, entre outros. Os valores, as crenças, os hobbies, as diferentes experiências e desafios, as circunstâncias de vida, entre outras, podem moldar profundamente a identidade de uma pessoa independente da sua profissão. As pessoas são uma combinação de vários aspetos que vão além do trabalho remunerado e cada uma é única na sua jornada e identidade.
CV: Reconheço que por vezes, associamos aquilo que fazemos à nossa identidade como pessoa, mas isso é uma escolha, não é uma obrigação. O que nos define são os nossos valores, aquilo que gostámos de fazer, o que nos motiva, o nosso propósito. Acredito que o impacto que cada um de nós pode ter no Mundo é independente da profissão que escolhemos.
Que tipo de lideranças são necessárias entre estes tempos conturbados?
AS: Precisamos de líderes eficazes que demonstram resiliência, empatia, adaptabilidade e uma visão estratégica clara, com uma liderança que deve ser orientada para a construção de confiança, a promoção da colaboração e a criação de soluções sustentáveis para o bem-estar das suas equipas e comunidades.
CV: Num contexto onde o amanhã se antecipa cada vez mais incerto, acredito que precisamos de lideranças de: Coragem, para pensar de forma independente, para desafiar o status quo, para reconhecer erros e decisões menos boas; com coragem de fazer diferente e fundamentalmente com capacidade para aprender e vontade de evoluir no pensamento; e de Proximidade para melhor compreender o contexto, a realidade e o dia a dia das pessoas.
O que deseja para 2024?
AS: Desejo muito uma colaboração e esforços coletivos para enfrentar os atuais desafios do Mundo e que haja progressos em direção à paz e estabilidade nas regiões atualmente afetadas por conflitos.
CV: Menos ego, mais humildade. Menos crítica, mais iniciativa. Menos conformidade, mais coragem. Menos certezas, mais vontade de aprender. Que cada um de nós aproveite a magia de um novo ano para chegar mais perto do seu propósito e gerar um impacto positivo no Mundo.
Notas Biográficas
Ana Amélia Santos ocupa o cargo de Coordenadora do Departamento de Estudos e Projetos, da Direção de Engenharia EPAL e Águas Vale do Tejo, desde 2015, onde é responsável pelo planeamento e gestão de projetos de abastecimento de água, saneamento, edificado e património histórico. Conta com mais de 30 anos de experiência, fundados em diferentes vivências ao longo da sua carreira profissional.
Carla Viana lidera o departamento comercial de E-commerce na Sonae MC, nas áreas de Trading Food e B2B do Continente Online. Ao longo do seu percurso profissional passou pela Accenture, Optimus, KPMG, Johnson&Johnson e Merck em diferentes países da Europa, tendo desempenhado funções de responsabilidade em estratégia, marketing e gestão. É licenciada em Economia pela Faculdade de Economia do Porto e tem um MBA pela Duke University – The Fuqua School of Business, EUA.
Promova
O Promova é um projeto coordenado pela CIP e desenvolvido em parceria com a NovaSBE que promove a igualdade de género no acesso a altos cargos de direção em organizações privadas. O Promova quer contribuir para aumentar a presença de mulheres na atividade empresarial portuguesa, em funções de gestão de maior responsabilidade, diversificando as perspetivas na tomada de decisões estratégicas das empresas. O projeto já vai na 4ª edição, com 72 empresas, 129 participantes e uma taxa de promoção de 49%. Apoiam financeiramente a ANA-Aeroportos de Portugal, EDP, Gilead, Randstad, Sogrape e Sonae. A próxima edição do Promova está agendada para 2024.
Leia a primeira entrevista aqui: Tendências RH: tecnologia, capacidade de escolher perfis e o ‘esquecimento’ do escritório