A balança da igualdade de género nunca esteve tão equilibrada como nos dias de hoje, mas o caminho a percorrer é ainda longo. A menos que os progressos acelerem rapidamente, a comunidade mundial não conseguirá alcançar a igualdade de género até 2030, como estipulado para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As Nações Unidas (NU) denunciam que os progressos globais são insuficientes, em especial devido aos atrasos em questões estruturais, como leis, políticas e orçamentos sensíveis às questões de género.
No que à liderança diz respeito, a igualdade de género está ainda aquém, com dados das NU a indicarem que, no último ano, as mulheres detinham apenas 26,9% dos assentos nos parlamentos, 35,5% dos lugares nos governos locais e 27,5% dos cargos de direção. Mas para compreender a influência do género nos estilos de liderança não basta ficar pelos números, é essencial reconhecer o contexto histórico e os preconceitos que a sociedade insiste em perpetuar.
Liderança feminina versus masculina
Apesar de estar maioritariamente estabelecido que homens e mulheres apresentam as mesmas capacidades para liderar, alguns estudos sugerem que podem existir diferenças nos estilos de liderança conforme o género. Um dos mais antigos estereótipos de género que insiste em perdurar no tempo é que as mulheres são demasiado emotivas para serem líderes eficazes, especialmente em tempos de incerteza. Uma investigação realizada pela Harvard Business Review a líderes na Europa mostrou uma realidade que contraria essa crença: durante as fases iniciais da pandemia de Covid-19, as mulheres mostraram ser menos suscetíveis de deixar que as suas emoções influenciassem negativamente os seus comportamentos de liderança do que os homens.
Durante este período, as mulheres líderes relataram níveis de ansiedade mais elevados, mas não traduziram essas emoções em comportamentos abusivos, ao contrário dos seus homólogos masculinos, que demonstraram uma supervisão mais hostil quando estavam ansiosos. Uma meta-análise publicada na revista Psychological Bulletin concluiu que as mulheres tendem a ser líderes mais transformacionais, dando ênfase à colaboração, à capacitação e ao desenvolvimento dos demais. Em contrapartida, os homens têm mais tendência para demonstrar uma liderança transacional, centrada na definição de objetivos claros, recompensas e castigos.
Portugal está perto da igualdade nas lideranças?
O Índice de Igualdade de Género da União Europeia (UE) ultrapassou os 70 pontos pela primeira vez, revelando um crescimento de 1,6 pontos desde 2022. O aumento da pontuação global da UE é o maior registado anualmente desde a primeira edição do Índice, em 2013. Este indicador, criado pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género, atribui à UE e aos Estados-membros uma classificação de um a 100, valor máximo que indica que um país atingiu a plena igualdade entre homens e mulheres.
Com 67,4 pontos em 100, Portugal ocupa o 15.º lugar da UE neste Índice, reunindo uma pontuação 2,8 pontos inferior à pontuação média europeia no seu conjunto. Desde 2010, a pontuação de Portugal aumentou 13,7 pontos, principalmente devido a melhorias nos domínios de divisão de tempo dedicado a tarefas diárias (+ 29,1 pontos) e cargos de poder (+ 22,5 pontos). Por outro lado, o relatório Progressos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: O retrato do género em 2024, realizado pela ONU, garante que existem poucos dados sobre a igualdade de género em muitos países do Mundo. Esta falta de informação pode estar a tornar algumas experiências das mulheres invisíveis no que toca a políticas e tomada de decisões.
A investigação avança ainda alguns dados desanimadores:
- Ao ritmo atual, serão necessários mais 137 anos para acabar com a pobreza extrema entre as mulheres;
- Em 51% dos países, existe pelo menos uma restrição que impede as mulheres de efetuarem os mesmos trabalhos que os homens;
- Em 18% dos países, as mulheres não têm direitos iguais para conferir a cidadania aos seus cônjuges e filhos;
- A nível mundial, as mulheres gastam 2,5 vezes mais horas por dia do que os homens em cuidados não remunerados e trabalho doméstico;
- As mulheres representam menos de 40% dos proprietários ou detentores de direitos sobre terras agrícolas em 32 dos 49 países com dados disponíveis.
Nos seis anos que restam até 2030, para que um progresso significativo seja feito exigem-se compromissos de mudança não só estruturais, mas também de mentalidades.
Este artigo foi publicado na edição nº 28 da revista Líder, sob o tema Silêncio. Subscreva a Revista Líder aqui.