A transição energética é um dos maiores desafios do século XXI. O caminho para um futuro sustentável exige uma reformulação profunda da infraestrutura energética, com a implementação de fontes renováveis, o desenvolvimento de novas tecnologias e um financiamento robusto para garantir a viabilidade dos projetos.
Apesar do progresso significativo desde o Acordo de Paris, os investimentos ainda estão longe do necessário. Em 2024, estima-se que o investimento global na transição energética atenha alcançado 2 biliões de dólares, um valor expressivo, mas insuficiente. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), para atingir a neutralidade carbónica até 2050, será preciso aumentar esse valor para 4,5 biliões de dólares anuais até ao início da década de 2030.
O desafio não é apenas técnico ou financeiro – envolve também questões socioeconómicas, políticas e regulatórias. Para acelerar a transição, os governos, as empresas e os investidores precisam de colaborar na construção de um modelo energético sustentável e acessível, garantindo segurança no abastecimento e estabilidade económica. Numa altura em que o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, usa e abusa do «drill, baby, drill», o mundo está expetante sobre o que virá a seguir. Contudo, os especialistas não têm dúvida: é preciso fazer mais e melhor.
Este artigo consiste num relatório do World Economic Forum.
Garantias de desempenho: reduzir o risco e atrair investimento
A incerteza em torno da fiabilidade e da longevidade de novas tecnologias é um obstáculo para a atração de capital. Para mitigar riscos, investidores e operadores exigem garantias de desempenho, muitas vezes fornecidas por contratantes de engenharia (EPC) ou seguradoras.
Estas garantias asseguram que a tecnologia irá funcionar conforme prometido, incentivando uma manutenção adequada e a otimização da operação – fatores essenciais para equipamentos inovadores, que ainda possuem poucos dados operacionais.
No entanto, fabricantes de tecnologias emergentes, como baterias avançadas, hidrogénio verde e captura de carbono, hesitam frequentemente em fornecer garantias de desempenho devido à incerteza operacional. Isso pode limitar a adoção dessas soluções.
Para resolver este problema, os governos podem atuar como fiadores do risco tecnológico, fornecendo seguros específicos para fabricantes e EPCs. Essa abordagem tem três grandes vantagens: acelera a adoção de novas tecnologias, permitindo a expansão rápida do setor, diminui os custos e os riscos para investidores, aumentando o financiamento disponível para projetos sustentáveis e facilita a bancabilidade dos projetos, tornando-os mais viáveis economicamente.
As lições aprendidas com a energia solar e eólica podem ser aplicadas a outras tecnologias emergentes, encurtando a curva de aprendizagem e tornando-as mais acessíveis.
Planeamento integrado: a base para a eficiência energética
O planeamento energético deve ser pensado como um sistema interligado. Sem uma abordagem integrada, há risco de desperdício de recursos, atrasos em projetos e falhas no fornecimento de energia.
Os governos e concessionárias precisam de adotar um planeamento estratégico de longo prazo, que envolva desde a escolha das áreas de instalação de novas centrais até a modernização das redes de transmissão. Algumas ações fulcrais incluem a designação de terrenos específicos para projetos renováveis. Isto já acontece em países do Golfo e na Ásia Central, reduzindo a burocracia e acelerando os investimentos. A expansão e modernização das redes de transmissão e distribuição, evitando congestionamentos e assegurando a conexão eficiente de novas fontes energéticas.
E ainda a criação de interligações regionais, permitindo o compartilhamento de capacidade entre diferentes regiões e reduzindo a necessidade de novas infraestruturas de grande escala.
Com o crescimento populacional e o aumento da procura por eletricidade – impulsionado pelo uso de inteligência artificial, veículos elétricos e digitalização industrial –, a necessidade de um planeamento eficiente nunca foi tão urgente.
A falta de visão estratégica pode levar a problemas de distribuição energética, falhas no abastecimento e custos mais elevados para consumidores e empresas.
O papel das pequenas e médias empresas (PME) na transição energética
Embora as grandes empresas e fundos de investimento desempenhem um papel central na transição energética, as PME são fundamentais para impulsionar a inovação e a diversificação do setor.
As PME possuem agilidade e capacidade de adaptação, permitindo-lhes desenvolver rapidamente novas soluções tecnológicas e atender a mercados específicos, como a eletrificação de áreas remotas.
No entanto, enfrentam barreiras significativas, como falta de acesso a financiamento, regulamentação complexa e dificuldades na contratação de profissionais especializados.
Para fortalecer a participação das PME, alguns países têm implementado medidas específicas. Na Dinamarca, o Programa de Desenvolvimento e Demonstração de Tecnologia Energética (EUDP) financia PME e universidades para desenvolverem e testarem novas tecnologias verdes. Além do financiamento, o programa oferece apoio técnico e consultoria especializada.
Na Índia, por exemplo, foi implementado um novo modelo de garantias financeiras. O programa Obrigações de Segurança de Seguro (ISBs) permite que empresas de energia renovável participem em leilões públicos sem precisar de recorrer a garantias bancárias tradicionais.
A ampliação deste tipo de suporte pode fortalecer o ecossistema de inovação no setor energético e tornar a transição mais acessível e inclusiva.
A importância da cooperação internacional
Para garantir o sucesso da transição energética, é essencial harmonizar normas e regulamentações em nível global. Sem padrões claros e universais, o setor enfrenta incertezas que desincentivam o investimento.
Além disso, a transferência de tecnologia para países em desenvolvimento pode acelerar o progresso global, reduzindo desigualdades no acesso à energia limpa.
É fundamental que sejam definidos critérios globais para eficiência energética e redução de emissões, evitando discrepâncias entre regiões. Assim como maior envolvimento de organismos internacionais, como o Banco Mundial e instituições de crédito à exportação, no financiamento de projetos sustentáveis em países de menor rendimento. Ainda igualmente essencial passa pela criação de mecanismos de apoio às PME, garantindo que a inovação não fique restrita a grandes empresas.
A ausência de padrões internacionais uniformes pode dificultar a adoção de novas tecnologias. Por exemplo, a União Europeia promove a mistura obrigatória de combustível de aviação sustentável (SAF) com combustíveis fósseis, mas essa política não é adotada universalmente, o que gera incerteza para investidores do setor.
Conclusão: um caminho sustentável e viável
A transição energética não é apenas uma necessidade ambiental – é também um desafio económico, político e social. Para garantir um futuro sustentável, é essencial: reduzir o custo do capital para tornar os projetos mais viáveis; melhorar o planeamento energético, evitando desperdícios e garantindo um fornecimento eficiente; criar um quadro regulatório estável e globalmente alinhado, reduzindo as incertezas do mercado; apoiar as PME, garantindo que possam contribuir para a inovação e o crescimento do setor; fortalecer a cooperação internacional, permitindo uma transição mais equilibrada e acessível a todos.
O caminho para a energia limpa é uma maratona, não uma corrida de velocidade, mas com cada passo dado, estamos mais perto de um futuro onde a sustentabilidade e a inovação caminham lado a lado. A transição energética não é uma escolha – é a nossa oportunidade de redefinir o mundo que deixamos para as futuras gerações.



