Vi Pote de Ouro, Nos Copos com Shane MacGowan, de Julien Temple. É um filme interessante para quem gosta de música e do género cultivado por Shane MacGowan, o personagem principal. Que o lendário líder dos Pogues era um personagem dado aos excessos é algo que já se sabia. A relação de amor-ódio deste irlandês com o Grã-Bretanha onde viveu quase toda a vida ficou para mim mais clara. Na verdade, MacGowan mostra uma oposição visceral ao país onde viveu, ao ponto de lamentar, diz, não ter tido a coragem física para se juntar ao IRA.
Respondeu criando os Pogues, um veículo para a afirmação do orgulho irlandês. Os Pogues, autores do clássico LP Rum, Sodomy and the Lash e da melhor canção rock de Natal (Fairytale of New York), construíram uma explosiva mistura de punk e música irlandesa, tornando-se um poderoso canal de soft power da nação paddy. Mas o que me levou a escrever este texto foi outra coisa. Outro imigrante, este da Jamaica, Linton Kwesi Johnson, editou em 1980 Inglan is a Bitch.
Num tempo em que ser imigrante parece estar a tornar-se um problema, eis as lições que retiro destes casos. Primeiro, as pessoas devem ser livres de dizerem o que querem, mesmo que queiram dizer que Inglan (ou Portugal) is a bitch. Segundo: têm que cumprir a lei. MacGowan pode dizer que os Pogues são o seu IRA, mas não pode explodir bombas. Terceiro: a tolerância face a estas opiniões é algo admirável. Por isso, há muitos anos que a Grã-Bretanha é um dos países qua mais admiro. Aprendamos com os britons.