O movimento ‘Portugal Sem Chamas’, criado para apoiar as vítimas dos incêndios em Portugal, lançou a campanha ‘Não deixes o interior às moscas’, com o objetivo de incentivar o turismo e apoiar a economia local nas regiões afetadas pelos fogos. Este ano de 2025 tem sido particularmente devastador, com um total de mais de 248.000 hectares ardidos até finais de agosto – o segundo maior registo desde 2017, quando arderam cerca de 537.000 hectares –, representando cerca de 2,7% do território continental e triplicando a área ardida no mesmo período de 2024.
As chamas causaram pelo menos três mortes confirmadas, incluindo um antigo autarca de Vila Franca do Deão e um bombeiro em acidente durante o combate aos fogos, além de mais de 300 feridos entre operacionais e civis. Financeiramente, os prejuízos diretos estimados ultrapassam os 30 milhões de euros para cerca de 5.000 agricultores e produtores, com impactos totais na economia projetados em 2,3 mil milhões de euros, incluindo perdas indiretas em setores como a agricultura e o turismo.
Quanto aos animais, as perdas são significativas, com relatos de destruição de rebanhos e habitats que afetaram milhares de cabeças de gado e fauna selvagem, embora números exatos sejam difíceis de quantificar devido à escala dos fogos. Em casos isolados, como na Serra da Estrela, pastores salvaram parte dos rebanhos, mas galinheiros e outros animais domésticos foram completamente perdidos. As zonas mais afetadas concentram-se no interior Norte e Centro, nomeadamente os distritos de Coimbra (como Arganil e Lousã), Guarda (Trancoso e Sabugal), Viseu (Sátão), Castelo Branco, Bragança e Vila Real, onde mega incêndios como o de Arganil (cerca de 60.000 hectares) e o unificado de Trancoso-Sátão (mais de 80.000 hectares) devastaram florestas, aldeias e infraestruturas.
O movimento que quer revitalizar o interior
Através de uma plataforma dedicada, o movimento pretende dar visibilidade a restaurantes, alojamentos, produtores e atividades turísticas que ficaram sem clientes devido à destruição das suas regiões. Esta iniciativa permite que os estabelecimentos se registem gratuitamente, ganhando destaque junto de turistas nacionais e estrangeiros, contribuindo para sustentar famílias e regenerar comunidades economicamente fragilizadas.
Ricardo Paiágua, criador e coordenador da plataforma, salientou que, «da experiência de apoio às vítimas dos incêndios, o movimento evolui agora para uma ação focada na valorização do turismo autêntico e na promoção de uma gastronomia que representa as raízes do país».
Além disso, nos dias 12 e 14 de setembro, o movimento associou-se à Liga de Amigos da Serra da Lousã (Lousitânea) em duas ações de reflorestamento e recuperação na Serra da Lousã – Aigra Nova, Góis. Durante as atividades, os voluntários tiveram a oportunidade de ajudar na reflorestação da aldeia e na recuperação do curral do rebanho comunitário, contribuindo para a preservação do meio ambiente e o fortalecimento do espírito comunitário. A organização ofereceu um almoço a todos os participantes como forma de agradecimento pelo esforço e dedicação.
O movimento ‘Portugal Sem Chamas’ reforça assim o seu compromisso de promover uma recuperação sustentável, autêntica e solidária, unindo esforços para que o país renasça mais forte e unido.