A liderança é muitas vezes romantizada como força, visão e resiliência. Vemos líderes descritos como estrategas brilhantes, figuras de inspiração e faróis de estabilidade. Mas, por trás dos discursos mobilizadores e dos relatórios repletos de resultados, existe uma realidade raramente assumida: a solidão. Rodeados de equipas, conselhos e stakeholders, muitos líderes sentem que não têm espaço para revelar dúvidas ou fragilidades. A expectativa de “ter sempre respostas” cria uma barreira invisível, um isolamento que corrói tanto a clareza de pensamento como o bem-estar emocional. É uma solidão silenciosa, que se instala mesmo nas agendas mais cheias.
É precisamente neste território que o coaching profissional se torna essencial. Um (coach) profissional ICF (International Coaching Federation) não é conselheiro nem avaliador. É um parceiro de reflexão que oferece escuta profunda e questionamento poderoso. Nesse espaço confidencial, o líder pode finalmente remover a máscara, explorar dilemas éticos, desafiar crenças enraizadas e descobrir novas perspetivas. Esse processo não acrescenta ruído. Pelo contrário, cria silêncio fértil, onde a clareza emerge. A cada sessão, o líder reconstrói a sua narrativa, não para se tornar alguém diferente, mas para se aproximar da melhor versão de si próprio.
Partilhar a jornada com um coach não é sinal de fraqueza. É, na verdade, um ato de coragem. Exige reconhecer que a complexidade do presente ultrapassa certezas rápidas. Requer humildade para questionar e ousadia para se reinventar. Quando um líder encontra esse espaço de reflexão, a solidão transforma-se em clareza, e essa clareza multiplica o impacto. O resultado é visível: decisões mais alinhadas, equipas mais confiantes, culturas organizacionais mais saudáveis. Ao cuidar de si, o líder abre caminho para cuidar melhor dos outros.
Acredito que a liderança mais inspiradora não nasce de certezas inabaláveis, mas da coragem de ser humano.
Um líder que reconhece as suas vulnerabilidades, e que escolhe para o seu percurso um parceiro de reflexão, inspira confiança genuína. Porque liderar não é um ato solitário, é um exercício de humanidade partilhada. O futuro da liderança não pertence aos que carregam o peso sozinhos, mas aos que têm a coragem de partilhar a jornada.
Este artigo foi publicado na edição nº 31 da revista Líder, cujo tema é ‘Decidir’. Subscreva a Revista Líder aqui.