Nos últimos meses, deparei-me com dois estudos publicados este ano que oferecem uma visão abrangente do atual panorama do mercado de luxo: o True-Luxury Global Consumer Insights do Boston Consulting Group (BCG) e o relatório da European Cultural and Creative Industries Alliance (ECCIA)–Bain, sobre as indústrias culturais e criativas de topo na Europa. Embora diferentes em âmbito, ambos convergem numa mensagem clara: o setor do luxo está a passar por uma transformação profunda, moldada pela evolução das expectativas dos consumidores, pela volatilidade económica e por um foco renovado na experiência e na autenticidade.
O estudo do BCG destaca uma grande mudança estrutural: o crescimento futuro será impulsionado esmagadoramente por clientes de topo, uns minúsculos 0,1% de consumidores que geram 23% do valor do mercado. Estes indivíduos priorizam a exclusividade, relações personalizadas e experiências verdadeiramente memoráveis. O relatório ECCIA–Bain reforça esta ideia ao demonstrar que a liderança da Europa no luxo está enraizada no seu artesanato, riqueza cultural e ecossistemas de serviço altamente personalizados (high-touch), revelando também que o turismo relacionado com o luxo representa até 25% do valor do turismo e motiva 30 a 40% dos viajantes globais.
Juntos, os estudos sugerem que a hotelaria de luxo e o turismo estão no centro da próxima fase da indústria. Se o luxo se está a tornar mais seletivo, experiencial e impulsionado pela emoção, então a hospitalidade é um dos setores melhor posicionados para corresponder a estas expectativas. As viagens têm a capacidade única de proporcionar experiências imersivas e irrepetíveis (once-in-a-lifetime), precisamente as experiências que a BCG identifica como os maiores impulsionadores dos gastos em luxo. Isto representa uma oportunidade tremenda, não apenas para hotéis e resorts, mas para todo o ecossistema que os rodeia: artesanato, instituições culturais, design, gastronomia, fornecedores locais e bem-estar.
Ambos os relatórios enfatizam que a centralidade no cliente – servir menos clientes, mas servi-los muito melhor – definirá as marcas que prosperam. Isto envolve cultivar um genuíno ‘sentido de pertença’ e uma ligação emocional entre o cliente e a marca. Para os prestadores de serviços, isto significa elevar a qualidade, aprofundar relações e oferecer experiências dotadas de identidade e significado.
Para Portugal, estes insights são particularmente relevantes. O turismo e a hotelaria estão entre os maiores contribuintes para o PIB português e o país incorpora muitas das qualidades agora mais valorizadas no luxo: artesanato autêntico, rico património cultural, gastronomia de classe mundial, tradições de bem-estar e uma reputação crescente de qualidade e criatividade.
Ao alinhar-se com as tendências destacadas em ambos os estudos – experiências exclusivas, serviço personalizado e excelência -, Portugal tem uma oportunidade única de capturar um nicho lucrativo e em expansão no mercado global de luxo. Ao integrar artesãos, chefs, designers, produtores de vinho e curadores culturais num ecossistema de luxo coeso, Portugal pode tornar-se não apenas um participante, mas um ponto de referência no novo panorama do luxo.

