O Natal é uma celebração global, mas a forma como é vivido varia enormemente entre culturas, religiões e climas. Para além da árvore, dos presentes e do Pai Natal, muitos povos preservam tradições ancestrais ou criam costumes surpreendentes, que revelam a criatividade, história e crenças locais. Este artigo explora oito tradições de Natal que fogem ao óbvio e permanecem carregadas de significado cultural.
Japão — Frango Frito no Natal
No Japão, o Natal não é um feriado religioso oficial, dado que apenas cerca de 1% da população é cristã. Ainda assim, a véspera de Natal tornou-se sinónimo de frango frito da KFC, tradição iniciada nos anos 1970 com a campanha publicitária Kentucky for Christmas. Hoje, milhares de japoneses fazem encomendas semanas antes do dia 25 para garantir o seu balde de frango. A tradição simboliza celebração, convívio e modernidade urbana, e tornou-se um ícone cultural inesperado do Natal nipónico.
Venezuela — Patinar até à Missa de Natal
Em Caracas, crianças e adultos vão à missa de Natal de patins. Durante a semana que antecede o Natal, algumas ruas principais da cidade são fechadas ao trânsito automóvel até às 8 da manhã, permitindo que a comunidade deslize até à igreja. Esta tradição remonta aos anos 1970 e vai além da fé, simbolizando um forte sentido de comunidade e alegria coletiva, transformando a prática religiosa numa experiência social única.
Filipinas — Lanternas Gigantes Parol
Nas Filipinas, a celebração do Natal começa cedo, com a preparação das lanternas gigantes chamadas parol, que representam a estrela de Belém. Cada cidade organiza concursos de lanternas, algumas com mais de cinco metros de diâmetro, feitas de bambu e papel colorido. A tradição combina religiosidade, arte e vida comunitária, transformando as noites de dezembro em autênticos espetáculos de luz e cor.
Ucrânia — Árvores Decoradas com Teias de Aranha
Uma tradição folclórica ucraniana envolve decorar a árvore de Natal com teias de aranha artificiais ou ornamentais. A origem remonta a uma lenda popular: uma viúva pobre não conseguia enfeitar a árvore da família, mas aranhas teceram teias que, milagrosamente, se transformaram em fios de ouro e prata. Hoje, estas teias simbolizam sorte, prosperidade e a beleza que pode surgir da adversidade.
Islândia — Os 13 Pais Natais do Gelo (Yule Lads)
Na Islândia, as crianças não aguardam um único Pai Natal, mas sim 13 Jólasveinar — figuras travessas da tradição nórdica. Cada um chega numa noite diferente, entre 12 e 24 de dezembro, deixando pequenos presentes ou pregando partidas às crianças menos bem-comportadas. A tradição combina mitologia ancestral, pedagogia moral e entretenimento durante os longos e escuros dias de inverno islandês.
Estónia — Sauna e Simplicidade
Na Estónia, o Natal é vivido como um tempo de recolhimento e essencialidade. Antes da ceia, muitas famílias tomam banho de sauna, acreditando que o calor purifica o corpo e o espírito. A refeição natalícia é simples, baseada em peixe, vegetais e pão. Esta tradição reflete uma cultura de sobriedade, equilíbrio e ligação à natureza, em contraste com o consumismo dominante noutras partes do mundo.
Espanha (Catalunha) — O Tronco que ‘defeca’ Presentes
Na Catalunha, o Natal inclui uma figura insólita chamada Caga Tió: um tronco de madeira com cara sorridente que, nos dias que antecedem o Natal, é ‘alimentado’ pelas crianças. Na véspera ou no dia de Natal, as crianças batem-lhe com paus enquanto cantam canções tradicionais, para que o tronco ‘defeque’ presentes. A tradição mistura humor escatológico, ritual familiar e folclore ancestral.
Áustria e Alemanha — Krampusnacht, a Noite do Demónio
Em várias regiões da Áustria e do sul da Alemanha, a época natalícia inclui a Krampusnacht, uma noite em que homens mascarados de Krampus — uma criatura demoníaca do folclore alpino — percorrem as ruas com sinos, correntes e máscaras assustadoras. A tradição remonta à Idade Média e funciona como um ritual de catarse coletiva, lembrando que o Natal também tem raízes pagãs e simbólicas ligadas ao medo e à disciplina moral.
Um Natal global, surpreendente e criativo
Estas oito tradições mostram que o Natal está longe de ser uma celebração uniforme. Entre frango frito, patins, troncos mágicos, demónios alpinos e saunas purificadoras, as festividades refletem história, clima, crenças e identidade cultural. Celebrar o Natal, em muitos lugares do mundo, é também resistir à homogeneização e preservar rituais que dão sentido, memória e comunidade ao tempo.



