Durante os meses de verão, quando muitos profissionais entram de férias, a gestão de equipas e de projetos torna-se um exercício de planeamento e equilíbrio. O conceito de silly season não significa apenas menor atividade mediática ou empresarial — para muitas organizações, representa um período de adaptação e de redefinição das prioridades.
Em entrevista à Líder, Ana Correia, Human Resources & Employer Branding Lead da Zühlke Portugal, partilha a sua visão desta altura do ano onde afirma haver mais espaço para avançar em tarefas estratégicas e cultivar novas formas de colaboração.
Conta ainda que encara esta época não como um contratempo, mas como uma oportunidade para reforçar a autonomia, o foco e a entreajuda dentro das equipas. Mais do que manter a produtividade, trata-se de potenciar a cultura de confiança e flexibilidade, que deve mesmo ser promovida ao longo de todo o ano e não apenas no verão.
Qual é a melhor forma de distribuir e gerir tarefas com a equipa quando muitos colaboradores estão de férias?
O período da silly season pode ser desafiante, principalmente para as equipas que ficam a trabalhar. Face a este cenário, a melhor forma de gerir o talento passa por conceder autonomia às equipas para se reorganizarem, assumindo, assim, as tarefas prioritárias. Além disso, importa também garantir que há uma transição da responsabilidade de quem vai para quem fica, de forma a garantir que nada se perde e que todos os temas são devidamente encaminhados.
Quais são as mudanças mais marcantes da dinâmica de trabalho da Zühlke nesta altura do ano?
Na Zühlke, verificamos uma mudança natural no ritmo de trabalho. A colaboração entre equipas torna-se ainda mais relevante, uma vez que é necessário manter o alinhamento mesmo com uma menor disponibilidade de pessoas. Este período reforça o espírito de entreajuda e de responsabilidade partilhada, com muitos profissionais a assumir temporariamente tarefas fora do seu âmbito habitual.
Por outro lado, a redução no número de reuniões e a menor pressão diária criam espaço para maior foco, permitindo avançar com atividades que exigem maior concentração ou recuperar aquelas tarefas que vão ficando para segundo plano ao longo do ano e que, agora, conseguimos tratar com mais atenção e calma.
Estas alterações são contratempos ou podem revelar-se uma oportunidade?
Apesar de poderem ser vistas como um desafio, estas alterações representam frequentemente uma oportunidade. A menor agitação e o ritmo mais calmo proporcionam um ambiente propício à reflexão, ao planeamento e à criatividade.
É também um momento favorável para reforçar a autonomia e a confiança nas equipas, incentivando a responsabilização e o desenvolvimento de novas competências.
Para muitas pessoas, esta altura pode ser uma oportunidade para pensar de forma mais estratégica, longe da urgência do dia a dia.
Quais são as estratégias essenciais para manter a produtividade na silly season?
Durante esta altura, planear bem as tarefas e projetos com que se quer avançar é essencial. Priorizar tarefas ou projetos que não dependam de pessoas que poderão estar ausentes ou avançar com tarefas que exigem um maior foco pode ser uma boa solução, já que haverá menos interrupções e será possível manter a produtividade.
O papel dos gestores é essencial para motivar os trabalhadores. Que aptidões são importantes para gerir a equipa nestas situações?
Durante esta época, acredito que o mais importante é saber gerir expectativas. Na silly season, os gestores devem ser capazes de perceber o que é mais importante e urgente para priorizar essas tarefas, gerindo sempre expectativas e milestones a cumprir antes ou depois das férias.
Ao mesmo tempo, é também importante realizar um bom planeamento das ausências com antecedência, de forma a alinhar e priorizar o que não pode mesmo parar nestas alturas.
Como deve ser feita a gestão de projetos e deadlines nesta época do ano?
O mais importante é gerir expectativas uma vez que, inevitavelmente, nesta altura há sempre menos pessoas a trabalhar ao mesmo tempo.
Ao planear esta altura, é importante definir se é necessário uma equipa mínima e que perfis devem integrar esse grupo, bem como coordenar as férias para que não estejam todos os perfis iguais da equipa de férias ao mesmo tempo.
Além disso, é essencial ir sempre realizando também uma gestão de expectativas dos stakeholders dos projetos sobre o que se consegue entregar e quando durante esta silly season.
Qual é a importância de uma cultura de trabalho flexível para uma organização, não só no verão, mas durante todo o ano?
O bem-estar do talento deve ser sempre uma prioridade para todas as empresas, e promover uma cultura de trabalho flexível é a chave para o conseguir. Medidas como horários flexíveis e um modelo híbrido, que permitam às equipas escolher onde e quando querem trabalhar, ajudam a facilitar a conciliação da vida pessoal e profissional, algo que é, atualmente, uma prioridade para os profissionais. Na Zühlke, por exemplo, concedemos às nossas equipas a possibilidade de reduzir o horário de trabalho ou de o condensar, de solicitar uma licença sabática uma vez por ano, um modelo de flexitime (banco de horas) e a flexibilidade de ter uma gestão autónoma do tempo de trabalho e de pausa.
Acreditamos que este tipo de medidas, que devem ser promovidas não só no verão, mas ao longo de todo o ano, permitem aumentar a produtividade, a motivação, o bem-estar e a felicidade das equipas no trabalho. Além disso, estabelecer esta cultura torna o pacote de benefícios das empresas mais atrativo, o que permite atrair e reter o melhor talento, algo particularmente importante tendo em conta o atual cenário de escassez de perfis qualificados. Um modelo de trabalho flexível deve ter sempre como base a escuta ativa para alinhar as condições e benefícios às necessidades dos profissionais.