A aviação europeia voltou a ser atingida por um grande ciberataque que afetou vários aeroportos e deixou passageiros retidos em terra durante horas. O incidente confirma uma tendência crescente: o setor aéreo é hoje um dos alvos mais apetecíveis para os cibercriminosos, não apenas pelo impacto económico, mas também pelo efeito em cadeia que gera em múltiplos países.
Os ataques não se limitam a falhas de sistemas de TI. Quando um fornecedor crítico é comprometido, a disrupção alastra-se de imediato a companhias aéreas e aeroportos interligados, provocando atrasos em cascata. Este efeito de contágio é um dos maiores riscos para a aviação moderna, altamente dependente de plataformas digitais partilhadas.
Ataques cronometrados para causar o máximo de impacto
Segundo especialistas, os fins de semana e feriados tornaram-se as janelas preferenciais dos cibercriminosos. Com equipas de segurança reduzidas e tempos de resposta mais lentos, estas operações conseguem prolongar o caos até ao início da semana, quando o tráfego aéreo atinge o seu pico.
«Os criminosos exploram deliberadamente o ponto mais frágil da aviação: a sua cadeia de fornecimento interligada. Um único fornecedor comprometido pode paralisar dezenas de aeroportos e companhias aéreas de uma só vez», alerta Rui Duro, Country Manager da Check Point Software em Portugal.
Ameaça em crescimento: números alarmantes
Os dados mais recentes confirmam que a ameaça não só persiste como se agrava. De acordo com a Check Point Research, o setor de Transportes e Logística manteve-se entre os dez mais atacados do mundo, registando uma média de 1.143 ataques por organização por semana nos últimos meses, o que representa um crescimento de 5% em relação a 2024. Só em agosto de 2025, a média subiu para 1.258 ataques semanais por organização, sinal claro de uma pressão cada vez mais intensa.
Nesse sentido, o ransomware continua a destacar-se como a forma mais disruptiva de ataque. No segundo trimestre de 2025 foram registados 1.600 incidentes a nível global, com o setor de Transportes e Logística a representar 4% do total. A atividade de ransomware, só nesse período, cresceu 126% face ao ano anterior, atingindo máximos históricos.
Também a Agência Europeia para a Cibersegurança (ENISA) revelou que os ciberataques contra a aviação na Europa aumentaram 30% desde 2022, em particular os ataques à cadeia de fornecimento e os ataques de negação de serviço (DDoS) a sistemas de reservas. Já a Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) estima que mais de 95% das companhias aéreas sofreram tentativas de intrusão cibernética nos últimos três anos.
Cibersegurança, tão crítica como a segurança física
Os especialistas sublinham que a cibersegurança na aviação deve ser tratada com a mesma seriedade que as verificações físicas antes de uma descolagem. «Sem uma estratégia robusta, continuaremos a assistir a disrupções cada vez maiores», avisa Rui Duro.
Entre as medidas urgentes estão a atualização constante de software para fechar vulnerabilidades, a monitorização em tempo real de atividades suspeitas e a implementação de planos de contingência com backups testados para manter serviços críticos online. Igualmente fundamental é a melhoria da cooperação internacional. Isto ajudaa garantir que governos, companhias aéreas e fornecedores tecnológicos partilham informação rapidamente para detetar e conter ataques em tempo útil.
Com a digitalização da aviação e a aposta em tecnologias como inteligência artificial e biometria para controlo de fronteiras e gestão de tráfego, os riscos só tendem a aumentar. Especialistas alertam que os aeroportos, tal como as infraestruturas energéticas ou de saúde, já fazem parte da lista de infraestruturas críticas mais visadas na Europa.
Assim, o ataque da última semana confirma a urgência de reforçar a resiliência do setor. Num espaço aéreo onde a confiança é essencial, a cibersegurança tornou-se inseparável da segurança dos passageiros.