A crise climática está a agravar o número global de desastres naturais, sendo que muitos deles acontecem já simultaneamente. Vários pontos de inflexão podem já ter sido alcançados devido ao aumento global da temperatura em 1.1ºC, causados pela ação do Homem.
Um novo estudo “Exceeding 1.5°C global warming could trigger multiple climate tipping point”, publicado na revista Science e partilhado no The Guardian, refere que um ponto de inflexão acontece quando um limite de temperatura é ultrapassado, levando a uma mudança imparável num sistema climático, mesmo que o aquecimento global termine.
Pontos sem retorno que já foram alcançados:
- o colapso dos icebergs na Gronelândia, que eventualmente provocarão o aumento do nível do mar;
- o colapso de uma corrente essencial no Norte do Atlântico, afetando as chuvas de que milhões de pessoas dependem para produzir alimentos;
- o arrefecimento do pergelissolo rico em carbono, uma camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada.
Efeito dominó
Com um aquecimento global de 1.5ºC, novos pontos passam a tornar-se possíveis de acontecer, o que inclui mudanças às grandes florestas no Norte, e a perda de quase todos os glaciares montanhosos.
No total, os investigadores concluíram que haverá 16 pontos de inflexão, com os seis finais a requerer um aquecimento global de pelo menos 2ºC para serem “ativados”. Ativar um destes pontos geralmente ajuda a desencadear outros, tendo assim um efeito dominó.
Johan Rockstrom, diretor do Instituto de Investigação de Impacto Climático de Potsdam, e parte da equipa de investigação, afirmou ainda que “o mundo está a direcionar-se para um aumento de 2 a 3ºC da temperatura global.”
Um relatório recente do Painel Intergovernamental sobre mudanças Climáticas afirmou que o risco de desencadear pontos de inflexão climáticos torna-se alto com 2ºC de aquecimento global.
“Isto significa que a Terra prepara-se para cruzar vários pontos de inflexão perigosos que serão desastrosos para as pessoas em todo o mundo. Para manter as condições de vida na Terra e permitir que existam sociedades estáveis, devemos fazer tudo o que for possível para evitar cruzar estes pontos.”, alerta o diretor.
Há motivos para estarmos preocupados, mas também temos de ter esperança. O estudo realmente sublinha o porquê do objetivo dos acordos de Paris, de não ultrapassar um aumento de 1.5ºC de temperatura global, ser tão importante e por que se deve lutar nesse sentido. Não estamos a dizer que, como vamos alcançar alguns pontos de inflexão, que está tudo perdido. Cada fração de grau que impedimos que aumente depois dos 1,5ºC, reduz a probabilidade de atingir mais pontos.
David Armstrong McKay, Universidade de Exeter, autor do estudo
O estudo avaliou mais de 200 investigações anteriores sobre pontos de inflexão já passados, observações climáticas e estudos de modelagem.
Os pontos de inflexão globais até agora identificados, mas que ainda não foram alcançados:
- o colapso da Gronelândia e de duas partes dos mantos de gelo da Antártida Oriental;
- o colapso parcial e total da Circulação Meridional do Atlântico;
- a extinção da Amazónia;
- o colapso do pergelissolo e a perda de gelo marinho no inverno no Ártico
A avaliação do ponto de inflexão da Amazónia não incluiu, porém, os efeitos da desflorestação. “A combinação do aquecimento e da desflorestação pode ativar este ponto muito mais cedo”, afirma Armstrong McKay.
Os outros pontos de inflexão teriam efeitos regionais graves, incluindo a extinção de recifes de corais tropicais e mudanças nas monções da África Ocidental.