Será possível entendermos as nossas vidas como um fio de decisões? As quais se entrelaçam com outras decisões formando padrões que dão ordem àquilo que somos e fazemos? Se assim for, essas decisões tomadas ao longo do tempo poderão assemelhar-se aos quipos incas, sistemas métricos que conseguimos decifrar, mas apenas em parte. Assim são as nossas decisões: compreendemo-las, mas apenas em parte.
No entanto, gostamos de pensar as nossas decisões como deliberações voluntárias. Algumas sê-lo-ão. Podem ser rápidas ou lentas, como explicou Daniel Kahneman. Outras nascem do hábito. São tomadas por habituação, como explicou há um século esse extraordinário pensador que é John Dewey. Neste número da LÍDER procuramos abarcar este arco complexo das decisões que nos formam. E esperamos que a reflexão nos encoraje, individualmente, a afinar as nossas decisões habituais, eventualmente seguindo regras simples como explicado por Sull e Eisenhardt (e.g. comer mais plantas, dormir melhor, fazer exercício).
Coletivamente precisamos de saber como vamos deixar as novas tecnologias decidir: connosco ou por nós? Como podemos usar a inteligência artificial para mitigar as falhas dos nossos líderes? E como fazer da IA uma arma da paz e não mais um avanço na guerra e na fraude? Se somos aquilo que decidimos, este número deixa-nos um conjunto de reflexões para o presente e para o futuro. Caso queira continuar a explorar o tema, eis três excelentes leituras: Dewey, J. (1922). Human nature and conduct: An introduction to social psychology. Modern Library. Kahneman, D. (2014). Pensar depressa e devagar. Temas e Debates. Sull, D. N., & Eisenhardt, K. M. (2015). Simple rules: How to thrive in a complex world. Houghton Mifflin Harcourt.
Este artigo foi publicado na edição nº 31 da revista Líder, cujo tema é ‘Decidir’. Subscreva a Revista Líder aqui.