A mais recente reunião entre Donald Trump, Volodymyr Zelensky e os líderes europeus destacou-se mais pelo impacto mediático do que pelos avanços diplomáticos.
Durante o encontro, Trump tomou a iniciativa de ligar diretamente a Vladimir Putin, perante todos os presentes. O telefonema, que apanhou de surpresa tanto Zelensky como os chefes de governo europeus, foi apresentado como uma abertura para a possibilidade de uma futura reunião conjunta entre os três dirigentes.
Zelensky manteve um tom seguro ao longo do encontro, combinando agradecimentos constantes com declarações alinhadas com a diplomacia tradicional. A sua principal mensagem foi a de que a Ucrânia deve continuar no centro das prioridades ocidentais e que Kiev não pode ser deixada de lado.
Do lado europeu, a intervenção foi marcada por cautela. Macron discursou, mas sem apresentar propostas novas; Merz manteve-se discreto; Von der Leyen e Rutte mostraram disponibilidade em cooperar. Em comum, todos sublinharam a defesa da soberania ucraniana e a necessidade de garantias de segurança inspiradas no modelo da NATO, ainda que nenhum tenha ido além do enquadramento definido pelos Estados Unidos.
O ponto de viragem? Mais esboço do que acordo
Do encontro saíram duas linhas principais:
- Acordo inicial para que os EUA coordenem um mecanismo de garantias de segurança para a Ucrânia, algo descrito como «um Artigo 5 light», mas sem o peso jurídico da NATO.
- Discussões encaminhadas sobre um eventual encontro bilateral entre Zelensky e Putin, com Trump como mediador. O anúncio foi feito em tom de grande revelação, mas carece de qualquer confirmação de Moscovo.
O resto foi fumo.
- Território: Nenhuma linha vermelha clara sobre cessar-fogo, muito menos sobre concessões territoriais.
- Compromisso militar dos EUA: Vago. Trump ofereceu garantias políticas condicionais, mas evitou qualquer promessa de tropas ou de financiamento ilimitado.
Reações e leituras posteriores
Em Kiev, a reunião foi recebida com alívio: mesmo vaga, a promessa de garantias norte-americanas serve para mostrar ao público interno que a Ucrânia não está sozinha. Em Moscovo, o Kremlin reagiu com sarcasmo: descreveu o telefonema de Trump como «teatro de relações públicas» e reiterou que qualquer encontro só será considerado se Kiev aceitar «novas realidades territoriais».
Na Europa, o tom foi ambíguo. Bruxelas aplaudiu a unidade, mas a imprensa francesa e alemã não perdoou o que considerou ser «mais um episódio de subserviência europeia à estratégia americana».
Conclusões do encontro
O encontro terminou com resultados mais visíveis na forma do que no conteúdo. Foram apresentadas ideias sobre possíveis garantias de segurança e esboçadas hipóteses de tréguas, mas sem que se chegasse a compromissos concretos.
Na noite de ontem, Trump sublinhou um dos pontos-chave: os Estados Unidos não enviarão tropas para a Ucrânia, mas admitem coordenar com os aliados europeus um mecanismo de segurança militar. Trata-se de uma promessa que aponta para maior envolvimento político, embora sem definição clara quanto à sua aplicação prática.
No balanço diplomático, Zelensky conseguiu manter a Ucrânia no centro da agenda internacional, enquanto os líderes europeus reforçaram mensagens de apoio, ainda que sem iniciativas próprias de relevo. Putin, mesmo ausente, foi uma presença constante nas discussões, projetando-se como parte incontornável de qualquer evolução futura.
A guerra, essa, continua lá fora. Sem cessar-fogo, sem compromissos firmes, sem fim à vista. Entre drones, tanques e trincheiras, o cinema perde-se. O espetáculo enche páginas e noticiários — mas não detém bombas, nem devolve vidas.
Fotografia: Andrew Caballero-Reynolds/ AFP