Há muito que deixámos de olhar as estrelas apenas por admiração — agora olhamo-las como destino. A World Space Week 2025 terminou com um balanço global sobre como habitar o espaço poderá deixar de ser ficção. E já prepara o tema do próximo ano: a revolução dos lançadores que promete tornar o cosmos mais acessível do que nunca.
De 4 a 10 de outubro, mais de 90 países celebraram a World Space Week, a maior iniciativa global dedicada à exploração espacial. Sob o tema ‘Living in Space’, escolas, agências, universidades e empresas aeroespaciais promoveram mais de 15 mil eventos, de Houston a Riad, de Londres a Lisboa, discutindo como a humanidade poderá viver — e não apenas visitar — o espaço.
O evento, declarado pela ONU e coordenado pela World Space Week Association (WSWA) em parceria com o United Nations Office for Outer Space Affairs (UNOOSA), é um retrato da nova era espacial: colaborativa, comercial e tecnologicamente acelerada.
O espaço como extensão da vida humana
O tema de 2025 — Living in Space — levou para o centro do debate uma questão que há décadas parecia distante: como criar condições para a vida humana fora da Terra. Da agricultura orbital às missões lunares de longa duração, as conferências mostraram que a fronteira já não é técnica, mas biológica, ética e social.
Nos Estados Unidos, a NASA apresentou avanços nos módulos habitacionais da missão Artemis. Na Europa, a ESA destacou o papel da robótica e da impressão 3D na construção de infraestruturas lunares. E em países emergentes, como Índia e Nigéria, o enfoque foi o acesso democrático ao conhecimento espacial.
O espaço já não é apenas o destino de astronautas. «Está a tornar-se parte do quotidiano da civilização», sublinhou Robert Lightfoot, presidente da Lockheed Martin Space e chair honorário da edição de 2025. «Cada inovação em órbita tem reflexos diretos na Terra — da observação climática à internet global.»
Uma celebração sem fronteiras
A World Space Week é, por natureza, descentralizada. Desde 1999, quando a ONU a instituiu oficialmente, o evento decorre todos os anos entre 4 e 10 de outubro. Datas simbólicas que marcam o lançamento do Sputnik 1 (1957) e a entrada em vigor do Tratado do Espaço Exterior (1967).
Assim, a cada edição, milhares de escolas, planetários e museus alinham-se num mesmo calendário global, partilhando atividades que ligam ciência, educação e imaginação. Portugal participou ativamente com uma variedade de eventos educativos e culturais, alinhados ao tema global ‘Viver no Espaço’. Em Lisboa, destacaram-se iniciativas como palestras da Agência Espacial Portuguesa e oficinas dedicadas à sustentabilidade orbital, promovendo o interesse das gerações mais jovens pelas áreas STEM.
Em todo o país, foram registados diversos eventos, incluindo atividades em escolas, planetários e museus, que abordaram temas como a observação do espaço, o empreendedorismo espacial e o desenvolvimento tecnológico. Por exemplo, na Ilha de São Miguel, nos Açores, ocorreram eventos como ‘O Espaço vai à Escola’ e ‘Próxima Paragem: o Universo’. Estas iniciativas envolveram estudantes em atividades práticas e educativas sobre o cosmos, refletindo o crescente envolvimento de Portugal na promoção da educação espacial e na sensibilização para os desafios e oportunidades da exploração do espaço.
A nova era dos lançadores
O encerramento da edição de 2025 trouxe também um anúncio que aponta para o futuro: Tory Bruno, presidente e CEO da United Launch Alliance (ULA), será o chair honorário da World Space Week 2026.
Figura central da indústria aeroespacial norte-americana, Tory Bruno lidera há anos o esforço de modernização dos lançadores que colocam satélites e missões científicas em órbita. «Será uma honra presidir ao maior evento espacial do planeta», afirmou. «A inovação nos foguetões está a avançar a um ritmo extraordinário, tornando o acesso ao espaço mais acessível e frequente.»
A escolha não é acidental. O tema do próximo ano será ‘The Rocket Revolution’, um reconhecimento de que a forma como chegamos ao espaço está a mudar tanto quanto o próprio destino.
Dennis Stone, presidente da WSWA, explicou: «A revolução dos foguetões está a transformar o setor. A frequência e o custo de acesso à órbita estão a cair, abrindo o espaço a novas nações, indústrias e aplicações que beneficiarão a humanidade.»
Entre o sonho e a engenharia
Da perspetiva tecnológica, o entusiasmo é evidente. Empresas como a SpaceX, a ULA e a Rocket Lab estão a reinventar o conceito de reutilização de veículos e a expandir o mercado de lançamentos comerciais. Mas o significado simbólico é ainda mais profundo: a democratização do espaço pode ser o próximo passo da globalização, com implicações científicas, económicas e filosóficas.
A World Space Week recorda-nos, ano após ano, que o espaço não é apenas um território de conquista, mas um espelho da nossa própria capacidade de cooperação e imaginação. E se 2025 foi o ano em que começámos a discutir seriamente o que é ‘viver fora da Terra’, 2026 promete ser o momento em que olharemos para os foguetes não como armas, mas como pontes verticais entre mundos.



