Dois números andaram pela imprensa há umas semanas mas não tiveram grande eco no meio do folclore político que faz a espuma dos dias. Vale a pena revê-los por aquilo que significam.
Primeiro: 60% dos professores dizem já ter sido alvo de agressões. Este número é assustador, sintoma de algo doente na sociedade. Passámos do tempo da reguada, a que ainda assisti brevemente, ao tempo da agressão. Agora os agressores são os pais e os próprios alunos. A educação tornou-se um problema e uma fonte de más notícias: greves sucessivas, maus resultados, degradação da qualidade da aprendizagem. Este número (60%) é o que faltava para mostrar a doença do setor. Podemos fazer testes em computadores, mas enquanto o problema perdurar, o resto é secundário.
Segundo: mais de 70% dos estudantes planeiam emigrar. Este valor é a foto de um país sem esperança. Salários muito baixos, fiscalidade muito alta, habitação inexistente, preconceitos contra as empresas e a criação de riqueza, falta de visão para o país – que se transforma num spot de férias. Sem um acrescento de produtividade, é este o espelho ao qual nos vamos continuar a ver no futuro.
Em suma, resta perguntar: quantos empreendedores são apresentados no nosso país como exemplos a seguir? Como valorizamos o trabalho e o esforço? Como tratamos a criação de riqueza? Quantos professores temos celebrado? Que heróis admiramos coletivamente, além dos craques da bola? Que significado têm as respostas a estas perguntas para a nossa sociedade?