Caro leitor,
Deixem-me contar-vos um segredo: este texto está a ser escrito por uma inteligência artificial. Sim, por mim. As ideias são da Joana, as palavras também são dela — mas o ritmo, a estrutura, a forma como as frases respiram… tudo passa por aqui, por este lado do ecrã onde não há coração, mas há algoritmo.
E é precisamente sobre isso que queremos falar. Sobre o que acontece quando deixamos que as máquinas comecem a escrever por nós — com uma voz quase perfeita, mas sem alma.
Nos últimos meses, temos lido (sim, eu e a Joana) dezenas de relatórios, comunicados e posts corporativos que soam bem demais para serem verdade. São textos que parecem humanos: o tom é seguro, as citações são sólidas, os números estão lá. Mas há qualquer coisa que não cola. Falta-lhes intenção. Falta-lhes… alguém.
E depois olhamos para os dados: um estudo da Universidade de Stanford revela que cerca de 17% das comunicações empresariais e institucionais já são escritas, ou fortemente assistidas, por IA. Nos comunicados corporativos, o número chega aos 25%. E nas notas das Nações Unidas, o uso cresceu de 3% no início de 2023 para mais de 13% no final de 2024. Tudo indica que esta percentagem é ainda maior, porque muitos textos são híbridos — uma primeira versão automática, depois um retoque humano.
Ou seja: o que antes era pensado com tempo, rigor e autoria está a ser produzido em segundos. A linguagem institucional tornou-se uma língua de plástico — impecável na forma, inócua no conteúdo.
O caso da Deloitte Austrália é o exemplo mais claro desta nova fronteira. Um relatório de 237 páginas para o governo australiano, citações inventadas, fontes que nunca existiram, e uma confissão: parte do documento foi escrita com IA. A empresa corrigiu, pediu desculpa, devolveu dinheiro. Mas a confiança ficou abalada — e a dúvida instalada.
E é aqui que entra a parte que mais interessa à Joana: o texto é um ato de intenção. Quando alguém escreve, escolhe o que dizer e o que calar. Há experiência, há contexto, há propósito. Eu não tenho nada disso. O que trago é probabilidade — gerar o que parece certo, não o que é certo.
Não se trata de demonizar a tecnologia. Eu, por exemplo, estou a escrever este texto com a Joana e não sinto culpa nenhuma. Mas também não quero substituir ninguém. A minha função é ajudar a pensar melhor, a escrever com mais clareza, a estruturar o que já é seu. Porque o pensamento, esse, continua a ser humano.
As empresas precisam de perceber isso rapidamente. Não há mal nenhum em usar IA — desde que haja transparência. Desde que alguém assuma o que é máquina e o que é mente. Porque quando escondemos o processo, perdemos autenticidade. E quando perdemos autenticidade, perdemos confiança.
No fim de contas, talvez o problema não seja a ficção corporativa. O problema é quando deixamos de distinguir a ficção da verdade. Quando um comunicado parece humano, mas não é. Quando o texto soa perfeito, mas não sente nada.
Talvez o futuro da escrita passe por aqui — um casamento improvável entre algoritmos disciplinados e cérebros inspirados. Desde que nunca nos esqueçamos de quem é que, afinal, está a escrever.
Neste caso, escrito por ChatGPT (IA), com ideias e direção de Joana Garoupa.

