A Europa corporativa está a entrar numa zona de turbulência. Um novo estudo da Page Executive, construído a partir de mais de 4.500 respostas de executivos de vários setores — 1.700 só na Europa — expõe uma tendência que muitos conselhos de administração preferiam ignorar: 61% dos líderes seniores europeus querem mudar de empresa nos próximos cinco anos. É um número que supera a média global em 15 pontos e revela algo mais profundo do que simples rotatividade. Revela desgaste. Impaciência. E vontade real de fugir.
O motor da fuga: frustração acumulada
Os números não deixam margem para interpretações suaves. Oito em cada dez executivos europeus que pensam sair explicam a decisão com uma insatisfação profissional crescente. Sentem que o cargo já não acompanha a ambição, que o impacto encolheu, que a evolução estagnou.
E há outro ponto crucial: três em cada quatro colocam o salário no centro do problema. O pacote salarial já não acompanha a responsabilidade, a pressão e a complexidade que o papel exige hoje. Só 48% dizem estar satisfeitos com a remuneração, menos do que a média global.
Sim, 43% tiveram aumentos na componente variável. Mas isso não chega para acalmar a sensação de que o futuro traz mais carga do que recompensa.
O que muda quando as empresas permitem respirar
Num ambiente de cansaço e pressão, o estudo identifica uma variável que altera tudo: o trabalho híbrido.
Quando os executivos trabalham remotamente pelo menos dois dias por semana, a satisfação dispara 25%. A Europa está à frente da média global: apenas 15% continua sem acesso a modelos flexíveis.
É um dado simples, mas com uma mensagem clara. Liderar não significa estar preso a uma secretária.
O pacote de benefícios revela novos desejos
O estudo vai além da fuga e entra nos desejos de quem lidera.
O carro da empresa continua a dominar a lista de prioridades — 68% valorizam-no, quase 20 pontos acima da média global. A saúde mantém peso (52%), e a participação nos lucros cresce como sinal de alinhamento e confiança (39%).
Os líderes querem benefícios que representem estabilidade. Querem sentir que a empresa aposta neles antes de lhes pedir mais um salto.
O retrato de Portugal: sete setores, sete batalhas pelo talento
O estudo mergulha em profundidade no mercado nacional e expõe uma corrida desigual entre setores, todos à procura do mesmo. Líderes que consigam navegar a incerteza.
Consumer & Retail: aceleração total
A transformação digital, a globalização e a pressão por valor sustentável redefinem o setor. As empresas pedem líderes versáteis, rápidos e com mão firme para equipas híbridas.
Salários anuais: 150 mil a 350 mil euros (+ 20–40% variável).
Finance: o CFO assume o volante
Os CFOs aproximam-se do papel de CEO. A leitura rápida de dados, a visão transversal e as competências em IA, ESG e proteção de dados tornam-se essenciais.
Salários anuais: 120 mil a 350 mil euros (+ 20–100% variável).
Healthcare & Life Sciences: liderança na fronteira da inovação
As empresas querem executivos que combinem ciência, tecnologia, regulação e visão comercial. O setor vive uma fusão acelerada entre farma, biotecnologia e deep tech.
Salários anuais: 140 mil a 220 mil euros (+ 30–40% variável).
Human Resources: o coração estratégico das empresas
Os líderes de RH enfrentam um campo minado: IA, cibersegurança, ESG, modelos híbridos e diversidade. A função já não é operacional, mas estratégica.
Salários anuais (CHRO): 120 mil a 300 mil euros (+ 20–30% variável).
Industrial & Manufacturing: o novo músculo da economia
Digitalização, automação e sustentabilidade aceleram o ritmo do setor. Portugal torna-se terreno fértil para uma nova geração de líderes industriais.
Salários anuais: 120 mil a 500 mil euros (+ 20–50% variável).
Legal: a lei entra no centro da estratégia
Os líderes jurídicos acumulam competências que vão da regulação à tecnologia, da gestão de risco à automação.
Salários anuais (Counsel): 100 mil a 160 mil euros (+ 10–20% variável).
Technology: onde a inovação dita quem fica e quem sai
Neste setor, os líderes precisam de combinar velocidade mental, comunicação afiada e visão de futuro. A IA, a automação e as alianças estratégicas já definem o novo ADN das empresas tecnológicas.
Salários anuais (CTO): 90 mil a mais de 200 mil euros (+ 20–30% variável).
A Europa quer mudar e as empresas têm pouco tempo para reagir
O estudo Tendências Salariais 2025 deixa um aviso final. Se as empresas não ouvirem os seus líderes agora, podem perdê-los quando mais precisarem deles. A insatisfação cresce. A ambição acelera. E o mercado não espera. O relatório completo e a ferramenta interativa estão disponíveis aqui.



