Em Portugal, entre janeiro de 2022 e junho de 2023, o mercado de Merges & Aquisitions (M&A) cresceu em valor e volume de atividade em 2022. Apesar das circunstâncias adversas, ainda em período pós-Pandemia, a atividade portuguesa de M&A registou um crescimento médio de 11% no valor transacionado ao nível dos principais setores de atividade.
Estes dados constam do estudo ‘Portugal M&A: An overview of the Portuguese M&A activity’, elaborado pela Abreu Advogados, em parceria com o Transactional Track Record (TTR).
Principais conclusões
Em comparação com o ano de 2021, Portugal passou de 606 transações de M&A para 587 transações em 2022, verificando-se um decréscimo de 3,13%. Já no 1.º semestre de 2023, foram registadas 267 transações, o que revela ainda alguma apreensão e incerteza quanto à evolução do mercado transacional em Portugal no 2.º semestre do presente ano.
Em termos de valor das transações, o ano de 2022 registou um valor total de 14.300 milhões de euros, um decréscimo face ao ano anterior em que se verificou uma atividade transacional de 22.700 milhões de euros. No que diz respeito aos dados do primeiro semestre de 2023, o valor das transações fixou-se nos 5 mil milhões de euros.
Análise dos Setores
Da análise dos quatro setores mais ativos no mercado de M&A em Portugal em 2022, e olhando para o volume de transações, verificou-se um crescimento no setor de Imobiliário e Construção (+19,4%) e no setor de Tecnologia e Telecomunicações (+8,7%), quando comparado com o período homólogo de 2021. Em sentido inverso, ficaram os setores de Financeiro e Seguros (-8,3%) e de Energia e Energias Renováveis (-6%).
No primeiro semestre de 2023, verificou-se que o setor com maior volume foi imobiliário e Construção, contando com 46 operações, seguido do setor de Tecnologia e Telecomunicações (38 operações), financeiro e Seguros (15 operações) e Energia e Energias Renováveis (9 operações).
O estudo também considera a evolução do valor dos negócios em alguns dos principais setores do mercado, com destaque para o setor de Financeiro e Seguros, que verificou um crescimento de 69,2% em 2022, com um total de 2,2 mil milhões de euros investidos em atividade de M&A.
O setor de Tecnologias e Telecomunicações também teve um crescimento elevado, registando um aumento de 62,5%, para um total de 1,3 mil milhões de euros. O único setor analisado que verificou um decréscimo, face ao ano de 2021, foi o de Energia e Energias Renováveis, que registou uma queda de 50% no valor de negócio, com 900 milhões utilizados em operações de M&A, ao invés dos 1,8 mil milhões registados no ano anterior.
A origem do investimento estrangeiro no mercado de M&A em Portugal apresentou evoluções distintas consoante o país. Em 2022, a atividade de M&A de França em Portugal quase duplicou em relação a 2021. No entanto, apesar de um decréscimo verificado no volume de operações, Espanha continua a ser o país que lidera no investimento de operações de M&A em Portugal, com 85 operações.
Os EUA surgem em segundo lugar, com 58 operações, registando um decréscimo de 26,5% face a 2021. No entanto, países como França, Reino Unido e Alemanha verificaram um aumento no volume de transações em 2022, de 93,6%, 27% e 63,1%, respetivamente. Outra nota de destaque vai para os Países Baixos que, em 2022, conseguiu alcançar um aumento de 200% nos negócios registados em Portugal.
Tudo o que é realmente importante para nós portugueses, desde logo em termos económicos, depende muito mais, feliz ou infelizmente, do que se passa no Mundo e na Europa, do que aquilo que se passa cá dentro. Vivemos riscos sérios, que evidentemente interessam à economia e aos investidores. […] Nem tudo é sombrio, nem tudo são sombras negras. E eu julgo que temos que valorizar do ponto de vista interno e nacional, que temos um ambiente de estabilidade política, um bem inestimável para a economia e investidores. Neste momento em que a situação internacional é crítica, delicada, incerta, tendencialmente perigosa, obviamente que um país que tem estabilidade política é um país valorizado. Por outro lado, há uma mudança de paradigma importante que está a acontecer, a relação que passámos a ter com as finanças públicas, a relação que passámos a ter com os défices orçamentais, o novo ciclo histórico de dois anos consecutivos com excedentes orçamentais. Nós vivemos circunstâncias muito especiais, que gostaríamos de não viver, e temos que ter a noção que política externa é cada vez mais política interna. O que acontece lá fora tem sempre consequências cá dentro. Temos de viver com a incerteza, porque veio para ficar. O que quer dizer que, nas nossas decisões, também temos de nos habituar a investir, a empreender, a tomar decisões, tendo em conta a incerteza. O tempo que se vive é um tempo de risco, mas também de oportunidades
Luís Marques Mendes, Conselheiro de Estado e Consultor da Abreu Advogados
As estrelas da atividade de M&A em 2022 foram os setores habituais: imobiliário, energia (sobretudo renováveis), TI e empresas digitais, com muitas das transações a serem realizadas por vendedores e compradores não portugueses. No fim de fevereiro de 2022, o mundo mudou com a invasão da Ucrânia pela Rússia. As perturbações daí decorrentes, a subida dos preços da energia, a inflação e o rápido crescimento das taxas de juro impactaram negativamente o resto do ano, com uma redução do número de transações e dos valores envolvidos. Apesar de esses fatores se manterem em 2023, os mesmos foram já, de alguma forma, absorvidos e equacionados pelos stakeholders. Verificaram-se ainda alguns bons indicadores macroeconómicos, que também ajudam o setor de M&A, e se devem repetir em 2024, como: maior controlo da inflação, maior robustez da nossa economia em setores fundamentais como o turismo, a redução do endividamento público e, logo, dos juros que pagamos por essa mesma dívida, e a melhoria do outlook e dos ratings da nossa dívida pública. Por outro lado, a injeção massiva de fundos por parte do PRR e fundos estruturais da UE, sobretudo através de crescimento de investimento público, criarão oportunidades de negócio para o setor privado, para as empresas que participarão, diretamente ou como parceiros de empresas que participem diretamente, em concursos públicos e/ou terá acesso a auxílios estatais sob a forma de subsídios. O crescimento destas empresas e o investimento que farão podem propiciar boas oportunidades e influenciar positivamente a atividade de M&A em Portugal durante o ano de 2024
Manuel Santos Vítor, Sócio da Abreu Advogados
O que conseguimos perceber é que Portugal recuperou de dois anos difíceis de restrições de negócio. Percebemos que existiu uma mudança no paradigma, visto que a atividade de M&A no primeiro trimestre de 2023 ultrapassou os volumes de negócio dos períodos homólogos dos últimos 4 anos. A atração por Portugal nunca foi tão forte, em setores que, consistentemente, representam os volumes de negócios de M&A nos últimos anos e que indicam claramente que o país está no caminho certo. Queria agradecer à Abreu Advogados por organizar este momento, e tenho a certeza que as perspetivas que irão emergir deste evento permitirão que possam identificar tendências e oportunidades, para além de tomarem decisões de negócios firmes com confiança
Oliver Hill, Editor do Transactional Track Record (TTR)