Nas últimas semanas os autoproclamados pacifistas compreendedores de Putin têm atacado os líderes ocidentais a pretexto da sua hipocrisia. O argumento é o de que em tempo de guerra a UE e os EUA metem os princípios no bolso. Por exemplo, comprando energia a países como a Arábia Saudita, Israel ou a Venezuela.
Sobre este tema, o da hipocrisia ocidental, escreveu bem no Financial Times há umas semanas, creio que Gideon Rachman. Retomo o seu ponto: há hipocrisia na política ocidental? Sim, claro. Mesmo aqueles que defendem as democracias liberais lá vão fechando os olhos à política saudita. Também sabemos que há campos de trabalho na China (Xinjiang) mas protestamos com frouxidão. Conhecíamos os ímpetos imperialistas de Putin mas preferimos acreditar nele como ator racional. Logo, os críticos têm toda a razão neste ponto.
Mas Putin atua no plano da mentira e não no da hipocrisia. O seu regime mentiu sobre as manobras na fronteira com a Ucrânia. Manda matar por interpostas pessoas. Ataca com mercenários da Wagner. Não está em guerra mas iniciou uma “operação militar especial”. Está a desnazificar a Ucrânia, a salvar a população russófona de um genocídio do qual não existe evidência. Podíamos continuar. Os críticos têm razão, mas o seu sentido crítico parece incompleto, porque no fundo, continuam a compreender não a hipocrisia de Putin mas as mentiras que ele anda há anos a contar. Hipocritamente fazem o seu jogo quando passam as culpas da guerra para o Ocidente.