Estar na posição de dinamizadora de um ecossistema de inovação surge como um grande privilégio que deve ser acompanhado de um também grande sentido de responsabilidade. Ao promovermos ambientes propícios ao debate e à colaboração, focados em tópicos tão relevantes como fintech ou AI, somos parcialmente responsáveis pela criação das condições ideais para favorecer espaços preparados para perfis diversos.
Ao passar cada vez mais tempo nestes espaços não é difícil de constatar que o perfil do empreendedor no setor tecnológico ainda é marcadamente masculino. Imaginemos este cenário, cada vez mais comum em território nacional: são 18h da tarde e chegamos a um evento de networking num hub de inovação para empreendedores e startups ligadas à AI generativa. Ao passarmos os olhos pela sala, o que vemos?
Se fizermos o mesmo exercício de observação em múltiplos eventos para inovadores, sobre vários tópicos, o que concluímos? Quando, efetivamente, vemos mulheres nestes espaços, quais são as suas funções? São líderes? São
empreendedoras? Exercem cargos administrativos no background? Todas estas questões conduzem-nos até à questão fundamental: as mulheres têm lugar à mesa no ecossistema de inovação nacional? Face a esta constatação, volto a sublinhar o sentido de responsabilidade e a obrigação de calibrar os (pequenos grandes) detalhes que permitem a persistência deste paradigma. É essencial garantir que o ecossistema de inovação, empreendedorismo e criatividade não exclui, por defeito, uma fatia tão relevante da sociedade. É crucial procurar ativamente formas de tornar obsoletos segmentos de palestras dedicados a women in tech ou women in innovation. Por enquanto, neste período em que as desigualdades de representação e de género são uma característica gritante do setor tecnológico e de inovação, existe ainda o imperativo de pensar eventos, momentos de convívio e desenvolvimento profissional preparados para receber perfis diversos.
Neste sentido, todos aqueles que integram ecossistema de inovação nacional podem repensar o tipo de convites que fazem, as oportunidades que criam e os paradigmas que reforçam os seus hubs. Reconhecendo que não existe uma fórmula mágica para corrigir automaticamente as disparidades de género na inovação e empreendedorismo, sublinharia, ainda assim, que a diversidade é benéfica à inovação disruptiva.
O ecossistema de inovação nacional não atinge o seu máximo potencial enquanto o lugar à mesa, as sessões de networking, as rondas de apresentação de startups, não forem espaços convidativos para profissionais e empreendedores com perfis e backgrounds diversificados, incluindo mulheres empreendedoras. É decisivo inovar, também ao nível dos perfis por detrás de cada inovação.