Enfrentar uma onda gigante é entrar num território onde não existe espaço para distrações. É estar completamente presente, num estado de total conexão com a natureza, com o mar, e comigo própria. É um espelho: mostra-me quem sou naquele momento.
Ao enfrentar cada onda, aprendo que sou mais forte do que pensava.
Que o corpo obedece quando a mente está alinhada. Que o medo pode ser domado com treino, escuta e respeito. E que, mesmo quando algo corre mal, há sempre uma nova oportunidade para recomeçar.
Encontro o meu centro na respiração, no silêncio interior antes da queda da onda. No amor que tenho pelo mar, pela vida e pelo propósito que me move. É aí que mora a coragem: na certeza de que estou onde devo estar.
O medo pode ser um aliado incrível. Ele protege, alerta, afina a intuição, mas quando não é escutado ou compreendido, pode paralisar. Aprendi a dançar com o medo: a dar-lhe espaço, sem o deixar conduzir.
Outras vezes, o mais corajoso é saber parar. Desistir não é fracassar, é escutar quando algo já não faz sentido ou não está alinhado com quem somos. Não acredito em causas perdidas, só em caminhos que mudam de direção.
O surf continua a ser um meio predominantemente masculino e já senti que tinha de provar mais por ser mulher, muitas vezes. Mas aprendi a transformar isso em motivação. Não quero provar que sou melhor que ninguém, apenas que tenho o direito de estar ali. O mar não tem género, só exige verdade. E eu estou lá, inteira, com tudo o que sou.
Tomar decisões em mar aberto pode sem dúvida ser uma metáfora para a vida, mas, fora de água, o medo assume outras formas. O mar ensinou-me que avançar, mesmo sem certezas, é a única forma de crescer. Errar faz parte. O importante é continuar a remar.
Este artigo foi publicado na edição nº 30 da revista Líder, cujo tema é ‘Enfrentar’. Subscreva a Revista Líder aqui.