Acho que está na altura de concordarmos que dizer que os jovens não se interessam por política, pela atualidade, pela sociedade, não corresponde propriamente à realidade. Talvez seja verdade que o façam através de meios ainda pouco tradicionais; e é também verdade que, infelizmente, essa participação nem sempre se traduz em votos eleitorais. Contudo, isso não significa que não nos interessamos. Se há coisa que os jovens têm feito é mobilizar-se em prol de causas, desde a crise na habitação ao combate às alterações climáticas.
Assim, refletir sobre uma causa sabe a pouco. A pouco porque há muito para, e por, fazer. A pouco porque nenhuma causa se basta.
Defender uma causa não implica que mais nenhuma outra seja válida. Aliás, o segredo está em perceber como, na verdade, estas precisam umas das outras para se materializar. Mais e melhor educação, para todas as pessoas, é caminho para uma sociedade mais informada, mais consciente e com pensamento crítico. Por sua vez, um maior questionamento, que possa colocar em causa verdades que parecem ser irrefutáveis, pode ser motor de mudança e de uma cidadania (mais) ativa.
No entanto, se tivesse de escolher uma só causa, como “a minha causa”, esta seria a igualdade de género. Outra vez esta conversa? Sim, outra vez.
Felizmente, já muito foi feito no caminho pela igualdade de género, mas nada está garantido, nem mesmo os direitos já adquiridos. Acrescentando a isto, gostava que refletíssemos para lá da desigualdade salarial ou da desigualdade no número de mulheres em cargos políticos ou executivos. A desigualdade de género é, na verdade, bastante mais sistémica do que às vezes nos lembramos, e a sua resolução vai depender de muito mais do que números, percentagens e quotas. Esta desigualdade torna-se visível nas coisas aparentemente invisíveis do dia a dia: quando estamos no trabalho, em conversas com amigos, nos transportes públicos e quando chegamos ao escritório de manhã cedo e, como que por magia, o chão foi aspirado e as chávenas de café acumuladas aparecem limpas. A desigualdade de género está também na disponibilidade em dizer “sim” a um convite para uma entrevista, para um trabalho, para fazer comentário político. Está nas exigências diretas e indiretas, sociais e estéticas.
De acordo com o Global Gender Gap Report 2024, do Fórum Económico Mundial, serão necessários 134 anos para alcançarmos a plena paridade. No entanto, nem todos reconhecemos a urgência e importância da igualdade de género assim como o longo caminho que temos pela frente, em Portugal e não só. Mas não é por não se ver, que ela não existe. Afinal de contas, assim como as mulheres. Acho que está na altura de concordarmos que alguma coisa tem de mudar.
BIO
Humanista, versátil, curiosa e apaixonada por relações internacionais, igualdade de género, paz e segurança, a Leonor acredita que somos sempre uma multiplicidade de coisas. Licenciada em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa, e mestre em Estudos Internacionais pelo Iscte – IUL, a sua dissertação final de mestrado explorou a implementação da Agenda Mulheres, Paz e Segurança em Timor-Leste.
Contribuiu para organizações como a Gap Year Portugal, o Alto Comissariado para as Migrações, a Embaixada dos Estados Unidos da América em Portugal, na secção de Assuntos Consulares, e a Representação da Comissão Europeia em Portugal. Integrou diversos projetos dos quais destaca a Academia Próxima Geração e o programa de formação em assuntos europeus Geração KNow. Mais recentemente foi selecionada representante da juventude no encontro global do Women’s Forum, em Paris e é atualmente membro dos Global Shapers Lisbon Hub, uma iniciativa do Fórum Económico Mundial.
Este artigo faz parte do Repto ‘Quais são as tuas causas?’, lançado aos jovens da Comunidade Global Shapers.