Pedro Santa Clara tem desafiado o status quo da Educação em Portugal, mostrando que é possível adotar projetos pedagógicos vanguardistas com impacto.
Através de iniciativas como a 42 Lisboa, 42 Porto e agora o TUMO, tem procurado, juntamente com a sua equipa, oferecer alternativas ao ensino tradicional, focando-se em modelos de aprendizagem baseados na prática, na autonomia e na colaboração.
Desde o primeiro momento, Pedro Santa Clara ficou impressionado com o modelo pedagógico e com o potencial de impacto do TUMO. «Os países que investem na educação hoje serão os mais competitivos amanhã», evidencia o Professor. Por isso o seu grande objetivo é trazer para Portugal abordagens e metodologias que preparem melhor os jovens para o futuro.
«Desde o início que assumimos a colaboração como um elemento central do nosso trabalho. Parcerias ativas com diversos atores da sociedade civil, incluindo empresas, municípios, educadores e outras organizações, aceleram os resultados dos projetos e promovem transformações significativas. Juntos, esforçamo-nos por revolucionar a educação e deixar um impacto duradouro no nosso país», sublinha.
O mais recente centro TUMO vai instalar-se em Lisboa, em setembro, no Beato Innovation Hub. E foi o motivo para uma conversa com Pedro Santa Clara, que está também a iniciar o projeto no Porto e em Braga, e de olho em Évora e no Algarve.
O TUMO foi fundado em 2011 em Erevan, na Arménia. O projeto tem vindo a expandir-se em todo o Mundo, num total de 14 centros e 28 mil alunos ativos. Em Portugal, iniciou-se na cidade de Coimbra no ano passado. Como surge a ideia de trazer o TUMO para o nosso país?
Trazer o TUMO para Portugal foi uma decisão estratégica fundamentada no reconhecimento do potencial transformador que o projeto pode trazer para os jovens portugueses. Ao identificar a oportunidade de trazer o TUMO para Portugal, fui motivado pela convicção de que precisamos de oferecer alternativas educacionais inovadoras que preparem os jovens para os desafios do futuro digital.
Fiquei desde logo impressionado com o modelo pedagógico e com o potencial de impacto do TUMO. Iniciámos conversas com os fundadores, Marie Lou e Pegor Papazian, para ver como poderíamos adaptar e implementar este conceito inovador em Portugal.
O passo seguinte foi reunir um grupo de parceiros excecionais em Coimbra, como a Critical Software, Paulo Marques e Pedro Bizarro (fundadores da Feedzai), o Licor Beirão, a Oxy Capital, a Câmara Municipal de Coimbra, a Altice Portugal, o BPI | Fundação ‘’la Caixa’’, a Fundação Santander e a Fundação Calouste Gulbenkian. Recrutámos uma equipa extraordinária e quando abrimos as inscrições tivemos a surpresa de centenas de jovens interessados logo na primeira semana.
Acreditamos que este é o momento certo para investir nos jovens de Portugal, capacitando-os para liderar o desenvolvimento nas próximas décadas. O TUMO não só lhes permite aprender novas áreas fundamentais para o futuro como a programação ou o design gráfico, mas, pelo próprio modelo pedagógico, contribui para desenvolver competências pessoais tais como a resiliência, autoconfiança, pensamento crítico e trabalho em equipa.
O mundo digital oferece inúmeras oportunidades, como é que descreveria o panorama da educação em tecnologia e criatividade em Portugal?
Está em franca evolução, mas ainda enfrenta muitos desafios. A necessidade de fornecer talentos para os setores da tecnologia e design é crítica em toda a Europa. Tanto o setor público como o privado estão a ensaiar respostas a essa necessidade com medidas que passam pela requalificação de jovens profissionais, organização de hackathons, financiamento de incubadoras, abertura de bootcamps, entre outros. Contudo, estas medidas são, muitas vezes, reativas. Acredito que o verdadeiro impacto assenta na preparação dos jovens desde cedo, garantindo que temos um pipeline de pessoas autónomas e preparadas, capazes de aproveitar as oportunidades das próximas décadas. Os países que investem na educação hoje serão os mais competitivos amanhã.
O TUMO assume-se como um ensino que foge ao tradicional e que o quer revolucionar. Na prática, como funciona e o que tenciona trazer de diferenciador ao mercado nacional?
Diferencia-se pelo seu modelo de aprendizagem que combina autoaprendizagem com workshops práticos dados por especialistas. Oferecemos um ambiente onde os jovens podem explorar as suas paixões e desenvolver competências práticas em áreas relevantes para o mercado de trabalho. Além disso, o programa é completamente gratuito e acessível, o que promove a igualdade de oportunidades e a inclusão social.
É um centro de tecnologias criativas que promove um programa educativo gratuito, inclusivo e voluntário, complementar ao ensino formal, no qual os estudantes, dos 12 aos 18 anos, escolhem o que vão aprender. Qual é o grande propósito?
Destaca-se precisamente por se focar nas competências reais dos jovens, seja através da aprendizagem do digital, bem como na valorização de valores positivos, como a capacidade de colaborar e comunicar eficazmente, a empatia, as capacidades de investigação e a proatividade.
A concorrência global em áreas como a programação e a produção de média e a ascensão da inteligência artificial implica um maior esforço dos empreendedores e trabalhadores para se focarem ainda mais na inovação, na multidisciplinaridade e na interseção de tecnologia com o design, em vez de apenas adquirirem competências técnicas isoladas.
O mais recente centro chega em setembro ao Hub Criativo do Beato, em Lisboa. Porquê a escolha deste local?
Escolhemos o Hub Criativo do Beato (agora Beato Innovation Hub) por ser um local emblemático e com grandes áreas. Aqui no Beato encontrámos um espaço amplo que está a ser adaptado para responder às necessidades do projeto. O espaço tem também a mais-valia de estar inserido num ecossistema vibrante e dinâmico, que fomenta a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento e setores da economia. Isso proporcionará aos nossos alunos um ambiente inspirador e repleto de oportunidades.
E qual o investimento envolvido?
O investimento é semelhante ao realizado em Coimbra, totalizando sete milhões de euros para cinco anos de projeto. Este projeto só é possível graças ao envolvimento de parceiros que acreditam na nossa missão e estão comprometidos em promover a educação e capacitar a próxima geração. BPI | Fundação “la Caixa”, Claude and Sofia Marion Foundation, Fundação Galp, José de Mello e Vanguard Properties são parceiros fundadores do TUMO Lisboa, aos quais se juntam Fundação Santander Portugal, MEO, Fundação Altice e Worten.
O que é que já pode ser desvendado sobre este centro?
O centro em Lisboa terá capacidade para acolher até 1500 jovens e vai oferecer formação em oito áreas de competência: Fotografia, Animação, Desenvolvimento de Jogos, Programação, Música, Design Gráfico, Cinema e Robótica.
O espaço físico de um centro TUMO é um ingrediente essencial para a pedagogia, por isso dedicamos tempo a pensar como criar um espaço que inspire os jovens e que lhes transmita que podem (e devem) ir além do tipo de pensamento a que podem estar acostumados em ambientes mais convencionais. A arquitetura de um centro TUMO contempla grandes espaços abertos, combinados com salas de workshops que assegurem a transparência e a flexibilidade, refletindo o currículo e a filosofia pedagógica.
No Beato, temos 1000m² preparados para surpreender e inspirar os nossos alunos, equipados com ferramentas topo de gama, incluindo um estúdio de música, uma sala de robótica e equipamento profissional de fotografia e cinema.
Há pouco explicava que o modelo de aprendizagem combina um equilíbrio entre autoaprendizagem e workshops. Como é que se concretiza?
Os alunos têm acesso a recursos online que desenvolvem presencialmente para aprender de forma independente, mas também participam de workshops regulares onde trabalham em projetos práticos e interagem com mentores e especialistas. Essa combinação permite uma aprendizagem personalizada e prática. O programa TUMO cria um percurso à medida de cada aluno, que segue ao seu ritmo. Após a fase de exploração, cada aluno define seu próprio caminho selecionando quatro áreas e no final do programa reúne um conjunto de trabalhos nestas áreas.
Como é que foi selecionado o corpo docente?
O TUMO Lisboa contará com uma equipa de 35 pessoas, composta principalmente por Workshop Leaders – especialistas nas áreas de competência oferecidas -, e Learning Coaches, que são facilitadores do processo de aprendizagem que acompanham os jovens. O processo de recrutamento está em curso e as vagas estão disponíveis no nosso site tumo.pt.
Para além de cumprirem com excelência os requisitos técnicos de cada área, procuramos pessoas alinhadas com a nossa missão de promover uma educação inclusiva e inovadora, capazes de inspirar e guiar os jovens no seu caminho de aprendizagem.
O que procuram os jovens no TUMO?
Procuram um espaço de aprendizagem e de conexão com outras pessoas. Como disse um dos nossos alunos: “O TUMO é um lugar para se aprender e para conhecer pessoas novas. Para o meu futuro, tem as áreas perfeitas para aprender.” Eles estão à procura de oportunidades para desenvolver competências em áreas que são importantes para o seu futuro, enquanto se envolvem num ambiente colaborativo e inspirador.
O que é necessário para se abrir um centro?
A ambição da equipa passa pela expansão de centros de educação TUMO por todo o território nacional. Estamos a começar a desenvolver o projeto no Porto e Braga, e já começámos algumas conversas também em Évora e no Algarve. É necessário garantir a junção de várias peças: um espaço, financiamento e uma equipa motivada.
O projeto é liderado por si, com a mesma equipa que anteriormente desenvolveu o novo campus da Nova SBE e fundou a 42 Lisboa e 42 Porto. Quais são as prioridades do seu mandato?
Esta equipa juntou-se com o objetivo de desenvolver projetos educativos com impacto. Desde o início que assumimos a colaboração como um elemento central do nosso trabalho, e este é um aspeto que procuramos e incorporamos nos nossos projetos. Parcerias ativas com diversos atores da sociedade civil, incluindo empresas, municípios, educadores e outras organizações, aceleram os resultados dos projetos e promovem transformações significativas. Juntos, esforçamo-nos por revolucionar a educação e deixar um impacto duradouro no nosso país.
E, de futuro, quais são as suas grandes ambições?
No futuro, temos grandes ambições para expandir e consolidar o impacto do TUMO em Portugal e além. Queremos aumentar significativamente o número de centros TUMO no País para garantir que mais jovens possam beneficiar do nosso programa educativo inovador. Além disso, pretendemos fortalecer as parcerias com o setor tecnológico e outras indústrias, criando uma ponte sólida entre a educação e o mercado de trabalho.
Outro objetivo é fomentar uma cultura de aprendizagem contínua e de participação cívica entre os nossos estudantes, preparando-os para serem não só profissionais competentes, mas também cidadãos ativos e conscientes.
Finalmente, estamos comprometidos em adaptar e evoluir o nosso currículo para responder às necessidades emergentes e às mudanças rápidas no mundo digital e tecnológico, garantindo que os nossos alunos estejam sempre um passo à frente e prontos para os desafios futuros.