Uma joint venture entre as portuguesas A4F (Algae 4 Future) e Green Aqua comprou a Solvay Portugal, detentora de ativos de produção de clorato de sódio na Póvoa de Santa Iria, à empresa química belga Solvay,
“A Solvay assinou um acordo vinculativo de venda da Solvay Portugal – Produtos Químicos, que inclui os ativos de produção de clorato de sódio de Póvoa de Santa Iria, à Algora – Sustainable Investments, SGPS, empresa constituída em joint venture entre a A4F – líder em biotecnologia – e a Green Aqua – produtora de algas – duas das principais parceiras locais da Solvay”, referem as empresas em comunicado a que a agência Lusa teve acesso.
Segundo adiantam, no quadro desta transação – cujo valor não foi divulgado e que não inclui a Solvay Business Services (SBS), também sediada em Portugal – a Solvay “manterá e centrará o seu foco na unidade de produção local de peróxido de hidrogénio [água oxigenada], continuando a apoiar a altamente exigente indústria de pasta e papel.”
“A Solvay está totalmente comprometida em continuar a dar aos seus clientes na Península Ibérica a total garantia de fornecimento de peróxido de hidrogénio. Este acordo estratégico permitirá à Solvay concentrar-se na sua atividade principal, no sentido de continuar a ser um parceiro de confiança e de longo prazo para os seus clientes ibéricos”, afirma Marco Giannuzzi, EMEA General Manager da Solvay Peróxidos.
Para a joint venture Algora, cujo nome é inspirado no ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, dado o seu papel na sensibilização mundial para o tema das alterações climáticas e da sustentabilidade, e que já opera uma plataforma de grande escala de produção de microalgas na Póvoa de Santa Iria, esta transação surge como “uma oportunidade relevante.”
Segundo a empresa, os “valiosos ativos” da Solvay Portugal integrados no negócio (unidade de clorato de sódio, instalações industriais, utilidades e a mina de sal localizada em Torres Vedras) irão permitir-lhe impulsionar o desenvolvimento das suas operações industriais, assegurando simultaneamente o crescimento e a diversificação do seu portefólio.
“Os acionistas da Algora têm uma longa tradição de parceria com grandes empresas industriais. As nossas atividades relacionadas com a produção de microalgas são CO2 negativas e isso posiciona-nos como parceiros estratégicos na transição da indústria para uma maior sustentabilidade”, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Algora, Nuno Coelho, em declarações à Lusa.
Salientando que “a inovação está no cerne da estratégia da Algora”, Nuno Coelho diz-se convicto de que será possível “melhorar as condições do Parque Industrial da Póvoa [de Santa Iria], tornando-o mais eficiente e mais sustentável e permitindo à Algora e à Solvay produzir melhor, de forma mais rentável e próxima dos clientes”.
Segundo os intervenientes, esta transação “foi desenhada para possibilitar melhores condições de operação da unidade de clorato de sódio, aproveitando ao máximo a estreita relação com os clientes locais, nos quais ambos os parceiros estão fortemente empenhados”.
“Temos grandes planos aqui para a Póvoa”, garantiu à Lusa Nuno Coelho, avançando como exemplo um projeto, já “com financiamento aprovado”, para produção de bio “jet fuel”, ou seja, combustível para o setor da aviação de origem biológica (o que “só seria possível numa unidade industrial, nunca num campus universitário ou noutro local”), assim como um outro para produção de hidrogénio verde.
A alteração acionista no âmbito do negócio está prevista para “o final do ano de 2020”, altura em que as empresas estimam começar a desenvolver as suas atividades em parceria.
Segundo garantem, “esta transação terá um impacto positivo no emprego local, porquanto prevê a manutenção dos atuais postos de trabalho e ainda a geração de novos empregos.”
“Este negócio não só não implica a diminuição de mão-de-obra, como vamos ter mais trabalhadores, altamente qualificados, que é a única forma que temos de desenvolver todos os projetos que aqui temos”, salientou o responsável da Algora, adiantando que o objetivo é contratar “mais 30 pessoas até final do ano e um número bastante maior em 2021.”
Com mais de 24 100 colaboradores em 64 países, a Solvay é uma empresa científica cujas tecnologias visam contribuir para “produtos mais seguros, limpos e sustentáveis”, de utilização em casas, alimentos e bens de consumo, aviões, automóveis, baterias, dispositivos inteligentes, aplicações de cuidados de saúde e sistemas de purificação de água e ar.
Fundada em 1863 e cotada na Euronext Bruxelas (SOLB) e Paris e nos Estados Unidos da América, a Solvay apresenta-se como estando “entre as três maiores empresas do mundo na grande maioria das suas atividades”, tendo realizado vendas líquidas de 10,2 mil milhões de euros em 2019.