Há meses que parecem carregar mais peso do que os outros. Setembro é um deles. É o mês do “voltar”. Voltar à escola, às rotinas, ao trânsito que transforma a paciência num bem escasso, às manhãs em que o despertador nos arranca da cama sem pedir desculpa.
O verão, com o seu jeito de promessa infinita, despede-se. As sandálias dão lugar aos sapatos esticar-se preguiçosamente — encolhem a uma velocidade desconcertante.
Mas setembro não é só despedida. É também recomeço. Os mais novos enfrentam o regresso às aulas, com a ansiedade das mochilas novas e dos livros por estrear. Os mais velhos aventuram-se pela faculdade, onde tudo é novidade e desafio. E os adultos… bem, os adultos tentam equilibrar agendas, tarefas, reuniões, trânsito, prazos e aquela sensação de que “este ano é que vai ser diferente”.
O curioso é que setembro se instala como uma espécie de janeiro disfarçado. Não tem fogos de artifício nem brindes à meia-noite, mas traz consigo o mesmo peso simbólico de recomeço. É o lembrete de que o ano caminha para o fim — mas ainda há tempo. Tempo para planos, tempo para recuperar objetivos esquecidos, tempo até para inventar novos.
Ao mesmo tempo, setembro exige uma capacidade estranha: a de estar em modo de arranque e de resistência em simultâneo. Pedir entusiasmo de início quando o calendário já grita “fim”. É uma contradição quase cómica, mas é exatamente isso que o torna tão humano.
O lado menos poético, é o caos. O trânsito mais denso, a logística familiar mais exigente, as manhãs mais curtas, a sensação de que não há tempo para nada. E é aqui que setembro nos testa: na nossa habilidade de aceitar que adaptação não é falha, é condição de sobrevivência.
Se quisermos ver pelo lado positivo, setembro ensina-nos que a vida é feita de recomeços constantes. Que a ordem raramente é perfeita. Que há espaço para ajustar, simplificar, priorizar — e, sobretudo, para perdoar a nós próprios aquilo que não conseguimos cumprir na primeira tentativa.
Em última análise, setembro é um lembrete elegante: viver não é começar apenas uma vez.
É começar outra vez.
E outra.
E outra, sempre que for preciso.