Numa sociedade ruidosa como a nossa, é notória a propensão para a moralização do silêncio, isto é, para fazer dele uma virtude. Este número reflete essa sacralização: o silêncio como espaço virtuoso. Todavia, o silêncio é um espaço mais complexo e, se se quiser, mais paradoxal. Digamos que existem um silêncio yin e um silêncio yang.
Um desses silêncios é o silêncio virtuoso, espaço de calma e de reflexividade. Esse é o silêncio do claustro e da meditação, dos viajantes solitários, do infinito. É um espaço de busca da paz exterior e interior. Os líderes precisam dele – para pensarem, para pararem e para contrariarem a roda da busyness, esse hábito de permanente ocupação que dificulta a criatividade e propende para a repetição.
Depois há um silêncio yang, tóxico. Manifesta-se de muitas formas. Esse é o silêncio da solidão e do medo. A nossa sociedade ruidosa tem bolsas desse silêncio nas muitas casas onde só vive uma pessoa. Trata-se de um silêncio não procurado e contínuo. Nas empresas existe o silêncio do medo – do chefe, de perder o emprego. Este é um silêncio nefasto, atrofiador. Como se explora neste número, importa que as nossas organizações e a sociedade cuidem do primeiro e combatam o segundo. Eles são duas faces de uma mesma lâmina que corta para os dois lados: sofre quem não consegue esse tesouro que é o silêncio; sofre quem não consegue esse outro tesouro que é a companhia.
Este editorial foi publicado na edição nº 28 da revista Líder, sob o tema Silêncio. Subscreva a Revista Líder aqui.