Os líderes tecnológicos enfrentam um ano decisivo em 2026, marcado por disrupção acelerada, inovação exponencial e novos riscos digitais. As principais tendências tecnológicas para 2026 refletem a realidade de um mundo hiperconectado e dominado pela Inteligência Artificial, onde nenhuma competência isolada garante competitividade. Empresas, governos e utilizadores vão atravessar uma transformação estrutural, influenciada por sistemas autónomos, automação avançada e ameaças digitais mais sofisticadas. Esta nova era tecnológica exige estratégias mais ágeis, seguras e orientadas por dados, sob pena de perder relevância num ecossistema global em rápida mudança.
A Check Point Software Technologies, especialista em soluções de cibersegurança, alerta para uma convergência tecnológica sem precedentes no seu relatório anual de previsões de cibersegurança para 2026. Os vértices são a inteligência artificial autónoma, computação quântica, hiper-automação e infraestruturas imersivas.
A importância de estar a par destas tendências é ímpar, especialmente para a Europa. Como afirmou Christine Lagarde, Presidente do Banco Central Europeu, de acordo com a Reuters, «corremos o risco de deixar passar a onda de adoção da IA e comprometer o futuro da Europa».
Hegemonia da IA pede regulamentação
O próximo ano dita que a inteligência artificial já não é uma ferramenta e deverá transformar-se numa camada operacional autónoma. Sistemas capazes de planear, decidir e agir com mínima intervenção humana serão usados para gerir linhas de produção, logística, marketing, finanças e segurança, ao mesmo tempo que introduzem novos desafios de governação, auditoria e controlo.
A Check Point alerta que «a competição será entre agentes autónomos maliciosos e agentes autónomos defensivos», sublinhando a necessidade de políticas e trilhos de auditoria robustos para garantir responsabilidade nas decisões tomadas por sistemas de IA.
Equipas ficam mais tecnológicas, mas reduzem
No espetro mais geral da inovação, a Gartner identifica três tendências tecnológicas distintas: o Arquiteto, o Sintetizador e a Vanguarda.
A tendência do Arquiteto destaca a construção de bases digitais preparadas para IA, desde plataformas de desenvolvimento nativas de IA – que vão reduzir grandes equipas a pequenos grupos aumentados por IA – até ao supercomputing híbrido e à computação confidencial, que protegerá a maioria dos dados sensíveis em processamento. De facto, 80% das organizações transformarão grandes equipas de engenharia de software em equipas menores, auxiliadas por IA, até 2030.
O Sintetizador reúne tecnologias que trabalham em conjunto para criar valor: sistemas multiagente, cujo interesse cresceu 1.400%, modelos de linguagem especializados por setor e a expansão da IA para robótica, drones e dispositivos autónomos.
Já a Vanguarda foca-se em confiança e segurança, com cibersegurança preditiva (que deverá absorver metade do investimento global), rastreabilidade digital para combater deepfakes, plataformas de segurança de IA e a tendência de mover workloads para infraestruturas soberanas. Para 2026, a Gartner é taxativa: estas tendências não são opcionais, mas imperativos estratégicos.
Web 4.0 vai trazer novidades
Paralelamente, 2026 marca o início da construção prática da Web 4.0, uma internet integrada com gémeos digitais, realidade aumentada e modelos virtuais permanentes de infraestruturas, cidades e processos industriais. Esta evolução promete ganhos significativos de eficiência e segurança, mas cria novas dependências críticas e uma superfície de ataque mais complexa, onde falhas de interoperabilidade podem ser exploradas por agentes maliciosos.
A Check Point destaca igualmente que a inteligência artificial passará a ser um motor estratégico de decisão em cibersegurança. À medida que adversários usam IA para ampliar velocidade, escala e precisão de ataques, as organizações serão forçadas a adoptar mecanismos defensivos equivalentes, recorrendo a modelos capazes de aprender continuamente e actuar em tempo real. Em paralelo, aumentará o risco de manipulação de modelos através de técnicas como prompt injection e data poisoning, transformando modelos de IA em potenciais novos zero-days.
Ameaças Digitais em Aceleração
A autenticidade humana também será um ponto crítico. O relatório antecipa um aumento expressivo de fraudes baseadas em deepfakes, identidades sintéticas e engenharia social avançada, capazes de imitar comportamento humano, padrões de comunicação e sinais contextuais. A verificação de identidade deixará de poder depender apenas de credenciais estáticas, exigindo validação contínua baseada em comportamento, dispositivos e padrões de uso.
No plano regulatório, 2026 será o ano em que a resiliência digital se transforma num verdadeiro requisito de licenciamento operativo. Normas como a NIS2 e o AI Act, combinadas com exigências de reporte em tempo real, tornarão a conformidade contínua uma obrigação legal e operacional. As empresas serão chamadas a demonstrar, de forma permanente, que controlos preventivos, práticas de protecção de dados e capacidade de resposta a incidentes estão plenamente implementados.
A corrida à preparação quântica também se intensificará. Apesar de os computadores quânticos ainda não conseguirem quebrar criptografia atual, a estratégia harvest now, decrypt later, já utilizada por atacantes, leva governos e grandes organizações a acelerar a migração para algoritmos pós-quânticos. O relatório defende que «o risco quântico é sobre os dados de hoje, não sobre as máquinas de amanhã».
No campo das ameaças, o ransomware evoluirá para operações de pressão baseadas em exposição de dados, em vez de encriptação, explorando impacto reputacional e regulatório. O risco da cadeia de fornecimento digital continuará a crescer, com dependências entre fornecedores, APIs e serviços cloud a criarem um ecossistema onde uma única falha pode gerar compromissos em massa. Adicionalmente, ataques de acesso inicial tenderão a explorar dispositivos periféricos (routers, câmaras, IoT) e ataques de identidade potenciados por IA, reduzindo a eficácia de métodos tradicionais de verificação.
Como as organizações devem responder
Para enfrentar 2026, a Check Point defende quatro princípios essenciais: prevenção-first, segurança IA-first, protecção integrada de toda a conectividade e plataformas abertas que unifiquem visibilidade, análise e controlo.
Os estudos reforçam que a resiliência digital, mais do que uma meta técnica, será um imperativo de governação e competitividade. Organizações que integrem transparência, prevenção e agilidade em todas as camadas do seu funcionamento estarão mais preparadas para navegar o “tsunami tecnológico” de 2026 e para transformar risco em vantagem estratégica.



