Sim, lembro-me de onde estava no 25 de abril. Na terceira classe, na escola primária de Queijas (Oeiras). Nesse dia, a mãe de um colega, o meu amigo Vicente, disse para voltar para casa porque tinha havido uma revolução. Para um miúdo de oito anos, o significado de revolução era pouco claro. Mas percebia-se que este era um dia importante, tanto que até hoje guardo dele memória.
Cinquenta anos depois este continua a ser o primeiro dia do resto das nossas vidas. O dia que nos deu a liberdade. Que não me obrigou a apanhar um navio para ir para a guerra em Angola (como o meu tio José Augusto, de quem me fui despedir à doca). Que fez de Portugal um país normal, europeu. Um dia de que nos orgulhamos todos os dias.
Para cumprir Abril, um processo sem data para acabar, faltam ainda muitas coisas. Falta fazer de Portugal um país mais próspero, com menos pobreza. Mais educado e com melhor educação. Com melhor saúde e habitação. Com uma justiça funcional. Há muito para fazer. Ou seja, com as coisas de que falava Sérgio Godinho na canção. Também falta acabar com a ideia de que o 25 de abril tem dono. Não tem: é de todos e a todos nos cabe ajudar a cumpri-lo. Estudando, trabalhando, sendo exigentes, sendo tolerantes. Não no dia feriado, mas todos os dias. Porque todos os dias são 25 de abril.
Ps – tenho andado a comemorar por antecipação com um livro e um disco. O livro é o delicioso 25 de abril: No princípio era o verbo, de Manuel S. Fonseca com ilustrações de Nuno Saraiva. O disco é JP Simões canta José Mário Branco, de JP Simões, claro. Não percam!