A democratização financeira será um dos grandes vetores de transformação da próxima década. Este conceito traduz-se na garantia de acesso equitativo a serviços financeiros e tem ganhado uma nova dimensão com o avanço dos pagamentos digitais – estes não só promovem maior transparência e confiança, como também ampliam a inclusão de cidadãos e empresas no sistema financeiro global.
De acordo com o relatório The Global Findex Database 2025, a titularidade de contas financeiras cresceu cinco pontos percentuais entre 2021 e 2024, atingindo 79% da população adulta. A massificação da banca digital através do telemóvel tem sido um dos motores desse crescimento. Contudo, persistem barreiras significativas: em Portugal, apenas 16% dos cidadãos conseguem responder corretamente a quatro de cinco questões básicas em literacia financeira, segundo dados da Euronews, o que nos coloca entre os países da União Europeia com piores resultados.
Este défice de conhecimento evidencia, assim, um paradoxo que marcará os próximos anos: a oferta tecnológica evolui rapidamente, mas grande parte da população permanece sem capacidade de acompanhar esta transformação. A banca tradicional, apesar de continuar essencial, mostra limitações em responder com agilidade e inclusão. É precisamente neste contexto que os novos modelos de pagamento dão o mote de mudança, desafiando práticas estabelecidas e oferecendo soluções mais simples, acessíveis e intuitivas à população.
A tendência aponta, assim, para uma consolidação da digitalização. No comércio eletrónico, segundo um estudo da Statista Digital Market Insights, mais de 75% das transações na Europa já utilizam métodos digitais. É um bom indicador, mas o caminho faz-se a par e passo. Exemplo disso é o aspeto regulatório: a implementação da diretiva europeia (PSD2) em 2018 abriu caminho ao open banking, mas a chegada da PSD3 e do regulamento sobre open finance ampliará as possibilidades de escolha e integração entre serviços, reforçando a competição e a inovação.
O futuro da democracia financeira na Europa dependerá, assim, de três eixos fundamentais: acessibilidade, segurança e educação. A tecnologia continuará a expandir fronteiras, mas só o esforço conjunto entre reguladores, instituições financeiras e sociedade permitirá que a inclusão digital seja efetiva e que todos possam beneficiar das oportunidades do novo ecossistema financeiro.