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A coragem de criar e enfrentar: quando a arte é campo de batalha

A coragem de criar e enfrentar: quando a arte é campo de batalha

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23 Junho, 2025 | 17 minutos de leitura

A arte – a última arena onde o humano resiste à morte silenciosa – não se limita a criar imagens. Na verdade, consegue mesmo rasgar o véu que nos esconde de nós próprios.

A palavra ‘coragem’ vem do Latim ‘Coraticum’, por sua vez, derivado de ‘cor’, ‘cordis’, ‘coração’. Enfrentar através da arte requer uma quantidade extra disso mesmo, de fervilhar o sangue de quem cria. Três artistas e um musicólogo sentaram-se com a Líder para falar dessa chama rebelde que a arte acende quando tudo o mais falha. Falou-se da arte que não se rende, que desafia regimes, destrói espelhos mentais e rasga o silêncio do tempo – uma arte que não apazigua, mas que queima, que sangra, que desvenda as chagas mais secretas da alma humana.

Entre ruídos de mercado e ecos de poder, Paulo Pascoal, Joana Vasconcelos, Miguel Januário e Luís Freitas Branco trouxeram à luz a centelha que recusa extinguir-se, esse fogo interno que resiste a transformar o artista num mero produto.

«Os verdadeiros muros não são de pedra – são mentais»

Para Miguel Januário, «os verdadeiros muros não são de pedra – são mentais». E são esses que tenta desmontar. Um a um. «Porque se a propaganda nos ‘ensina’ o que pensar, a arte pode ajudar-nos a reaprender a pensar por conta própria», esclarece.

O artista, conhecido pelo projeto “±maismenos±», não se assume como messias de causas. Prefere o incómodo à certeza, o ruído à apatia. O seu trabalho tem tanto de poético como de político. E é isso que o torna perigoso para quem prefere as paredes limpas – ou os murais que embelezam, mas não beliscam.

Miguel Januário, artista, prefere manter o anonimato. Foto: Karina Alves.

Miguel fala da cidade como quem fala de um organismo doente – e da arte como o bisturi que rasga, expõe, denuncia. Para ele, o artista tem o dever de sujar as mãos, de mergulhar na lama onde se escondem os vícios do poder e os silêncios da sociedade.

Num país onde o medo deixou de se esconder e começou a desfilar sem vergonha, a arte de rua reaprende a linguagem da denúncia. Não precisa de slogans gritados nem de líderes carismáticos. Basta uma parede. Basta uma frase. Quando se vive numa sociedade onde já ninguém precisa de ser censurado porque aprendeu a calar-se por si próprio, cada colagem torna-se uma reanimação da consciência.

Na sua visão, «vivemos hoje não sob um regime totalitário explícito, mas submersos num excesso de informação que paralisa». É o pesadelo de Huxley mais do que o de Orwell: não é a censura que nos silencia, é o entretenimento que nos adormece. E quando tudo é permitido, quando tudo pode ser dito, o que é dito já não tem peso. Torna-se ruído.

É contra esse ruído que Miguel responde com silêncio gráfico. Palavras nuas, sem ornamento. Um cartaz que diz ‘liberdade’ sem precisar de a definir. Uma parede que nos olha de volta. Não são panfletos: são espelhos.

Na mesma linha de combate, mas de outro lugar vem a arte de Paulo Pascoal – da diáspora, da pele, da memória colonial, do corpo como território político. Onde Miguel ergue palavras nas paredes, Paulo expõe a carne, confronta o olhar do outro, desafia as fronteiras do género, da origem, da norma. Ambos enfrentam. Ambos criam. Mas cada um transporta uma ferida distinta – e uma urgência comum.

 

Paulo Pascoal: a verdade, o corpo e o lugar da astúcia

A arte, para Paulo Pascoal, não é flor de jarra. Não serve para enfeitar salas nem para confortar plateias. É uma necessidade visceral, um músculo invisível que sustenta o corpo e, às vezes, arde. Mesmo quando não tem a força de derrubar regimes, ela infiltra-se – nas frestas, nas dobras, nos silêncios – e toca quem, um dia, poderá fazê-lo.

Por isso incomoda. «Fomos alimentados pela arte, quer tivéssemos consciência disso ou não», diz ele, e há nessa frase uma revelação: a de que crescemos de boca cheia sem saber o nome do alimento. Hoje, no entanto, o alimento está etiquetado, pasteurizado, vigiado. «Os algoritmos decidem o que sobe ao palco e o que permanece no escuro». A arte deixou de ser água selvagem e passou a ser garrafa com rótulo. E isso, para Paulo, é quase uma heresia.

Filho de Angola, artista em Portugal, negro, queer e radicalmente verdadeiro – mesmo quando a verdade custa. Porque custa sempre. «Dizer a verdade compromete. Queima pontos. Retira-te espaço. Impõe-te limites.» A liberdade, essa palavra que se gasta tanto, é sempre condicional. Pode-se escolher a roupa, o tom, o ritmo do passo, mas «há sempre uma rua que não se pode atravessar, um gesto que nos denuncia, uma lei que nos escreve por fora». A liberdade, na vida de Paulo, é uma equação em que o risco vem sempre primeiro.

Não foi a academia que lhe desenhou o percurso. Foi a vida. O corpo, esse que traz sempre um passado e uma suspeita às costas, foi o seu primeiro território político. «Sou um artista não conformado. E não é por escolha: é por sobrevivência.» Não havia alternativa que não a de criar, performar, cantar, escrever – «não para ser visto, mas para existir». E existir, para quem nunca coube nos mapas, é já um ato radical.

Paulo Pascoal, artista de várias facetas. Foto: Rafael de Oliveira.

A performance, diz ele, «é mais política do que qualquer discurso. Porque é pele. Porque é respiração. Porque traduz urgências que a linguagem oficial não alcança». Mas até esse território – a música, o palco, a imagem – está em risco de se tornar produto.

Paulo sabe disso. Está atento. Ferozmente atento. «Vejo muita gente a capitalizar sobre as dores das suas comunidades. Fala-se delas para se vender projetos. E depois, quando se escava, percebe-se que não há ali interesse nenhum pela mudança.» E nisto, Paulo não perdoa. Nem à indústria que lucra com feridas, nem aos que transformam discurso em performance sem ter corpo dentro.

Chama-se muitas vezes os corpos dissidentes para projetos com carimbo de inclusão. Mas o convite é armadilhado. É para a fotografia, não para a transformação. «Não querem realmente mudar nada. Só perceberam que é uma fonte rentável.» E é aqui que entra a astúcia. Não a esperteza cínica de quem sabe jogar o jogo, mas a lucidez de quem já percebeu que dizer a verdade não chega. «Já não vivo na ideia romantizada de que basta dizer o que é justo. É preciso saber quando falar, como falar, e com quem.» A verdade precisa de estratégia – não para se esconder, mas para sobreviver à surdez do mundo.

Essa estratégia, Paulo aprendeu-a com a vida. E com a mãe. Contou-nos um dia que ela se queixou: «‘Filho, já é a segunda vez que tenho de ir ao dicionário para te entender.’» Doeu. Doeu-lhe mais do que críticas públicas ou silêncios institucionais. «É a soberba da linguagem, a arrogância involuntária de quem acumula saber e se afasta sem querer.» Porque é fácil cair na ratoeira da superioridade – e esquecer que a arte, se não comunica, se não toca, torna-se inútil. Bonita, talvez. Mas morta.

Assim, há corpos que se levantam mesmo quando ninguém os chama. E há artistas que recusam o lugar confortável do aplauso para habitar o desconforto do confronto. Paulo Pascoal é um deles.

Ou, como ele próprio diria, com o sorriso breve de quem já viu demais: «Não sou formado, nem sou conformado. Não caber é o meu ofício.»

 

A música enfrenta «fraturas expostas»

«Quando falamos de música para enfrentar, normalmente estamos a falar de canções de protesto. É o único enfrentamento direto, digamos, em que, para quem está a ouvir ou a compor, é claro que existe uma oposição, uma resistência». Esta é a explicação que Luís Freitas Branco, crítico musical e mestre em Ciências Musicais, nos dá em resposta à pergunta ‘Como é que a arte enfrenta?’.

O seu livro, A Revolução antes da Revolução, fala precisamente desse sentimento: de todas as músicas que foram a centelha para o 25 de Abril e da sua importância no panorama português. O ponto mais fulcral de uma canção de protesto é ser uma declaração pública de um indivíduo ou grupo. Quando a música versa um tema sociopolítico para alcançar e influenciar uma audiência, que partilha o mesmo conjunto de valores e problemas.

«A Garota Não tem uma música sobre a crise da habitação com a seguinte frase: ‘A habitação é uma fratura exposta’. Parte precisamente desta lógica, de uma reflexão individual, de alguém que se sente oprimido ou tem empatia por quem o sente», diz.

Crucial é que as canções que pretendem fazer mossa «denunciem dinâmicas de poder e sejam uma resistência a um status quo». Deve haver oposição, resistência, documentário, pressão pública e mobilização social. «A grande diferença da música comparativamente a outras artes é projetar uma mudança», diz.

Luís Freitas Branco, crítico musical, tem estudado o papel da música nas revoluções.

Luís refere, inevitavelmente, a Palestina, como um dos casos de enfrentamento mais recentes. O Estado ocupado por Israel tem uma tradição muito longa de canções de protesto, que normalmente acompanham o que hoje chamam de intifadas, os movimentos sociais e de guerrilha. Essas canções são armas de arremesso que os palestinianos utilizam para mobilizar o mundo, mas também fazer uma espécie de enquadramento ideológico que sublinha a resistência a Israel e a autodeterminação do Estado da Palestina.

As canções, a música, são uma espécie de catalisador emocional para a revolta.

«Isto é uma particularidade da arte, que um discurso político não tem. Aqui é que está a grande diferença, o conseguir apelar a algo tão inatingível como o sentimento humano», refere.

 

O humano é o único animal que se representa a si próprio

O atelier de Joana Vasconcelos é o que se pode descrever como o sonho de um artista tornado realidade. Quem cruza as portas do armazém que dá vida e casa às suas obras, em Alcântara, rapidamente se apercebe de que aquele é o espaço onde criar é a palavra de ordem e os artistas podem, simplesmente, ser.

Desde um lustre feito com tampões até flores compostas por ferros de engomar a vapor, as mensagens da arte de Vasconcelos passam de peça em peça, de cabeça em cabeça, enfrentando conceitos. Considera, por isso mesmo, que o papel da arte é elevar as fronteiras e que os seus artífices devem «enfrentar o mundo e olhar para ele, questioná-lo».

A arte, para além de enfrentar, inventa.

A artista plástica reconhece que a tónica de ser artista está no verbo, mais do que numa profissão. Considera que este é o único grupo de seres humanos a quem não se pode «dar um programa». «Quando se sai do curso de Belas Artes ou de Pintura, não se é artista», explica.

As profissões permitem manter o mundo e fazê-lo funcionar, mas depois há que analisar e expandir: é aí que entram os artistas. «É por isso que um compositor é importante, porque não é um violinista nem está a interpretar algo feito por outros, está antes a criar uma nova dimensão, a enfrentar as fronteiras e a abri-las. No fundo, sem artistas, não se expande. Manter a funcionalidade do mundo não é uma profissão, é uma forma de estar na vida», esclarece.

Joana Vasconcelos, artista plástica. Foto: Mariana Alvarez Cortes / ‘A Noiva’, da autoria de Joana Vasconcelos. Foto: Luís Vasconcelos.

‘A Noiva’ começou a ser feita em 2001 e viajou por vários locais até 2005, ano em que foi apresentada como peça principal na Bienal de Veneza, a primeira edição a ser curada por mulheres. «Criou um impacto imenso, porque a peça é um lustre de saco, tradicional do século XIX, feito com tampões. Toda a gente percebeu o que é que aquilo queria dizer. «Eu não preciso de explicar, pois essa não é a minha função, a minha função é expandir a consciência», diz’.

As exposições devem aguçar a curiosidade e a mente, fazendo com que quem por elas passe «possa pensar para além daquilo a que está normalmente habituado». «É aí que eu fui sustentável, diferente. É aí que eu fui artista», acrescenta, com um sorriso. Na opinião de Vasconcelos, os tempos geopoliticamente frágeis que se insurgem não são sinónimo de uma renovada importância em fazer com que a arte enfrente. Explica que «a arte é uma parte intrínseca da sociedade. Desde o Paleolítico, há 40 mil anos antes de Cristo, que existem artistas. Isto quer dizer que, na estrutura básica da sociedade, existe o líder, quem chefia, o xamã ou líder espiritual, e o artista, que é aquele que representa».

«Todos os sistemas económicos, políticos e sociais existem em outras espécies de animais. Nós somos a única espécie que se representa a si própria», conclui.

 

Novos movimentos de resistência surgem na tempestade perfeita

Por vezes, para que um sentimento germine, o contexto pode ser tudo. O movimento ‘Geração à Rasca’, que aconteceu há 15 anos, foi espoletado por uma canção do grupo português Deolinda, Que Parva Que Eu Sou. «Foi o momento perfeito para ser lançada: um grupo extremamente conhecido e popular, com um estilo musical que qualquer português reconhece – o fado – um mês antes da queda de um Governo, antes da Troika, no auge do aumento do desemprego e da precariedade laboral», refere Luís Freitas Branco.

Arte urbana criada e fotografada por Miguel Januário.

Na Irlanda do Norte, os Kneecap também ficaram conhecidos recentemente por um documentário, onde exploram o republicanismo irlandês, que queria expulsar o Reino Unido da Irlanda. Além de cantarem em irlandês, recuperaram modos e símbolos tradicionais. Isto «cria um ponto comum, com valores da individualidade da Irlanda que se opõem a um status quo».

«Os próprios Kneecap foram muito criticados por falar sobre Israel e pedir uma Palestina livre no palco do Coachella, este ano, e isto leva-me a pensar que também no caso da arte e enfrentamento, o contexto é muito importante. Neste caso, a banda irlandesa saltou para um contexto onde não está tão confortável, não tem essa simbiose com a audiência e a mensagem é menos eficaz», explica.

O exemplo oposto, que se revelou um contexto multinacional, é o novo álbum do Bad Bunny, Debí Tirar Más Fotos. O disco centra-se nos ritmos e cultura de Porto Rico e na sua individualidade, numa oposição ao colonialismo e imperialismo dos EUA. «É claramente um exemplo de enfrentamento, mas, neste caso, numa escala mais global e capitalista».

«O contexto geral do álbum é a resistência e identidade, e quem é que está a ouvi-lo e a repercutir as suas músicas? Os jovens da Palestina, sendo que eles não falam espanhol», esclarece o musicólogo. As músicas de um dos álbuns mais ouvidos na atualidade servem de catalisador, com os palestinianos a utilizá-las para criar TikToks».

Com as novas mudanças geopolíticas, novas formas de ativismo podem surgir. Luís Freitas Branco verifica essas mudanças nos EUA, mas em Portugal ainda não. «Houve um movimento interessante, com uma série de canções sobre a crise da habitação, mas não sei se vai continuar». Talvez demore alguns anos, que as revoluções também precisam de tempo para fermentar.

Esse fermento pode ser precisamente o panorama musical, que muitas vezes «consegue ler a sina». No ano passado, começaram a surgir, antes e durante as eleições americanas, muitas canções country, que podem ser chamadas de protesto. Apelam à vida local das pequenas cidades e a valores norte-americanos e atingiram o topo das tabelas, algo que não acontecia neste género musical há décadas. «Isto foi um indício claro da maioria populacional que queria votar no Trump». Resta estar atento aos ritmos que permitem sentir o pulso do que está para vir.

Arte urbana da autoria de Miguel Januário. Foto: José Vicente CML/DMC/DPC.

Talvez seja preciso esvaziar para voltar a ver. Voltar a dizer. Voltar a colar.

Numas ruas do Porto, em Lisboa ou na Lourinhã, há paredes que não se calam. Entre o cinzento das fachadas e o silêncio apressado das rotinas, sobram cores e frases que ardem. Cartazes que não pedem licença. Não vendem nada. Não promovem marcas. Apenas interrompem. E é nesse breve espanto que a arte se infiltra na política – não nos corredores do poder, mas nas esquinas da cidade.

Miguel Januário «não acredita que a arte mude o mundo de um dia para o outro, mas recusa que ela apenas o decore». Crescido entre o grafismo e a intervenção social, foi colando nas ruas do País um protesto meticuloso, onde cada palavra tem o peso de um murro. As suas obras são frases curtas, afiadas, pintadas com a sobriedade de quem sabe que a estética pode ser uma arma – e a linguagem um campo de batalha.

Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, começou em 2005 a deixar as suas mensagens em muros que o tempo e o esquecimento julgavam já conquistados. Nascia assim um projeto artístico que se apresenta como uma equação ambígua, ±maismenos±, feita para subverter: mais consciência, menos propaganda; mais perguntas, menos certezas.

Mas os seus cartazes, colados como cicatrizes na pele das cidades, não querem apenas comover. Querem acordar. São, nas palavras do próprio artista, «gatilhos para a reflexão». E é aí que tudo começa: «Quando o espectador se detém, ainda que por segundos, e percebe que pode pensar de outro modo». Em tempos de algoritmos e discursos mastigados, isso por si só já é um gesto radical.

Hoje, Miguel também se envolve com ações ligadas a um partido, mas é nas ruas, nas colagens feitas à mão e afixadas altas horas, que se mantém fiel à sua primeira forma de militância. Não há política sem linguagem, e a sua é feita de símbolos, de lacunas, de cortes no discurso dominante.

Num tempo em que o fascismo se reorienta e se veste com novas roupas – tentando mudar a Constituição pela calada –, os cartazes de Miguel não pedem permissão. Lembram apenas que a democracia não é um dado adquirido, mas uma luta diária. E que cada parede ainda pode ser uma trincheira.

Entre o medo que perdeu a vergonha e a arte que perdeu o medo, ficam os cartazes. Não como resposta, mas como provocação. Porque, como dizia o próprio artista, «é tão cheio que se torna vazio».

Talvez seja preciso esvaziar para voltar a ver. Voltar a dizer. Voltar a colar.

 

Este artigo foi publicado na edição nº 30 da revista Líder, cujo tema é ‘Enfrentar’. Subscreva a Revista Líder aqui.

Marcelo Teixeira,
Jornalista

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Leonor Wicke,
Jornalista e Coordenadora Editorial

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