Os Estados Unidos da América têm sido um país diferente. Admirados, amados, odiados: todos temos uma relação emocional com os EUA. Desde os pós-II Guerra Mundial os EUA têm sido o país das grandes inovações, terra de sonhos e de liberdade, de cinema literatura, desporto. E do capitalismo.
O momento em que os EUA deixaram de ser um país diferente e passaram a ser um país normal, foi, para muitos de nós, o dia da primeira eleição de Trump. Como era possível que um indivíduo com a personalidade narcísica de Trump, com as suas falhas de caráter, com a sua impreparação, fosse eleito presidente? Mas foi e foi o que se viu. Pelos vistos, muitos americanos gostaram dele – e gostaram tanto que o reelegeram –mesmo depois da invasão do Capitólio. Para um não-americano, a reeleição, vista ao longe, é um fator de estupefação. Mas o povo falou e está falado. Parece, todavia, haver algo doente na democracia americana e já agora nas democracias em geral. Um sistema que o melhor que tem tido para dar é algo como Trump vs Harris – ou no Brasil, Lula vs Bolsonaro – é um sistema falido. Sociedades polarizadas, jornalismo de fação, redes sociais que amplificam as emoções: eis o caldeirão onde se tem cozinhado a política contemporânea.
Como escreveu Martin Wolf no Financial Times, Trump tem sido um incumpridor de promessas. Algumas duas suas afirmações terão servido apenas para eleitor ver. Dito isto, no momento do voto, o que as elites (jornalista, mediática, académica) acham, a partir da sua bolha, parece contar cada vez menos. O idealismo ideológico das elites parece cada vez mais afastado do pensamento do povo. Mas, repito, o povo falou e está falado. Veremos o que dá.