Atualmente, a Inteligência Artificial (IA) é uma realidade ubíqua a todas as organizações. Esta tecnologia transformou a forma como os negócios operam, otimizando processos e impulsionando a eficiência operacional. A par desta evolução, têm surgido dúvidas sobre os limites e a justiça da coexistência entre esta tecnologia e os trabalhadores.
O ano de 2024 começou com mais de 24 mil despedimentos em 89 empresas tecnológicas ao longo de janeiro, de acordo com o rastreador de demissões Layoffs.fyi. Adicionalmente, empresas como a Google, Amazon e Discord, já anunciaram planos para despedir centenas de trabalhadores este ano. A empresa de Tecnologia Educacional Duolingo divulgou que despediu cerca de 10% dos seus trabalhadores contratados.
As questões amontoam-se, mas há uma que surge inevitavelmente: quantos destes despedimentos podem ser atribuídos à Inteligência Artificial? A consultora Goldman Sachs já tinha previsto este cenário, afirmando num estudo que é esperado que a IA generativa elimine, reaproveite ou redefina 300 milhões de empregos por todo o Mundo. Ainda assim, os despedimentos nas primeiras semanas de 2024 deixam claro que a proteção dos trabalhadores pode estar a falhar.
Afinal, que perigos apresenta a IA?
António Guterres decretou no 54.º Encontro Anual do World Economic Forum a importância de regular a Inteligência Artificial, especialmente dentro das organizações. O Secretário-Geral das Nações Unidas alertou que algumas das maiores empresas tecnológicas estão a procurar lucros com a IA de forma imprudente e que são necessárias medidas urgentes para mitigar os possíveis riscos.
Num ataque feroz às multinacionais tecnológicas, Guterres afirmou que cada avanço na IA generativa aumenta a ameaça de consequências indesejadas, nomeadamente entre a população mais vulnerável.
O Secretário-Geral das Nações Unidas relacionou ainda os riscos da IA com os da crise climática e afirmou que a comunidade internacional não tem uma estratégia para lidar com ambos. «A tecnologia da UE tem um enorme potencial para o desenvolvimento sustentável – mas o Fundo Monetário Internacional acaba de alertar para o facto de ser muito provável que venha a agravar a desigualdade», afirmou o Secretário-Geral. O seu discurso terminou num apelo perentório: os governos e os organismos internacionais, como a ONU, devem garantir que a IA é utilizada para o bem.
A potencial utilização incorreta das tecnologias de IA, como o enviesamento algorítmico e as práticas de dados pouco éticas, são algumas consequências que devem ser combatidas. Sem uma regulamentação adequada, estas questões podem persistir, afetando uma nova dimensão dos Direitos Humanos.
O rápido avanço da IA levanta também preocupações sobre a responsabilidade e a transparência, ainda pouco abordadas. A falta de regulamentação pode resultar em processos de tomada de decisão opacos, dificultando a responsabilização das partes responsáveis pelas consequências das aplicações de Inteligência Artificial. A regulamentação torna-se essencial para estabelecer diretrizes claras para o desenvolvimento e a implantação éticos desta tecnologia.
Estas diretrizes devem ser o mais global possível, uma vez que abordagens inconsistentes entre regiões podem dificultar a cooperação internacional e exacerbar os desafios associados aos fluxos de dados transfronteiriços e às considerações éticas.
Este artigo foi publicado na edição de primavera da revista Líder, que tem como tema Handle with Care – O Poder da Fragilidade. Subscreva a Líder aqui.