Vivemos numa era em que os dados, enquanto recurso estratégico, não apenas definem o presente, como traçam as linhas do nosso futuro. Previsões do International Data Corporation (IDC) sugerem que a quantidade de dados gerados, capturados, copiados e consumidos globalmente vai ultrapassar os 175 zettabytes já este ano.
O que realmente interessa, no entanto, não é o volume de dados, mas como podemos usá-los para gerar verdadeiro valor, seja nas grandes corporações, seja nas pequenas empresas, ou até mesmo na gestão do nosso quotidiano. Afinal, o que seria do petróleo se não existissem ferramentas para o refinar? Da mesma forma, os dados são apenas uma matéria-prima até que alguém os transforme em insights valiosos.
72% das empresas globais adotaram IA generativa
À medida que a transformação digital avança, a integração da Inteligência Artificial (IA) nos processos empresariais torna-se cada vez mais prevalente. De acordo com um relatório da McKinsey, em 2024, 72% das empresas globais adotaram IA generativa, um aumento significativo em relação aos 55% registados em 2023.
Empresas que incorporam IA nas suas operações são mais rápidas e mais eficientes, conseguindo respostas quase em tempo real para cenários complexos. A IA vai além de ser apenas uma ferramenta de automação; ela transforma dados em inteligência prática.
Ainda assim, o uso de dados e IA levanta questões éticas que não podem ser ignoradas. Num mundo onde algoritmos influenciam decisões de negócios, políticas públicas e até interações individuais, surge a questão de como garantir que esses algoritmos não sejam tendenciosos ou discriminatórios. Um estudo da McKinsey & Company revelou que líderes empresariais reconhecem que os seus sistemas de IA ainda carecem de uma análise crítica quanto à equidade e transparência.
A democratização da Ciência de Dados
Se antes as grandes corporações estavam na vanguarda da utilização de dados, agora assistimos ao aparecimento de plataformas mais acessíveis, que permitem a empresas de todos os tamanhos começar a usar dados de forma estratégica. A McKinsey estimou que empresas com uma mentalidade orientada para dados têm cinco vezes mais probabilidade de tomar decisões rápidas e acertadas em comparação com aquelas que não utilizam ferramentas de análise de dados.
Ainda assim, de acordo com o UIS Data Browser, plataforma do Instituto de Estatística da UNESCO, globalmente, apenas 44% das crianças atingem a proficiência mínima em matemática no final do ensino primário, requisito fundamental para analisar dados. Além disso, 72% dos países ainda investem menos de 1% do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento.
A democratização dos dados traz promessas de inovação, mas também exige uma reflexão ética profunda. Michel Foucault lembrava-nos que «não há poder sem conhecimento», e, no universo digital, o verdadeiro dilema é este: os dados estão a servir a sociedade ou a sociedade está a servir os dados?
Este artigo foi publicado na edição nº 29 da revista Líder, sob o tema Incluir. Subscreva a Revista Líder aqui.