As regras do jogo estão sempre a mudar e o tabuleiro geopolítico da atualidade parece estar mais complexo do que nunca. Entre guerras, alianças frágeis e democracias ameaçadas, é difícil discernir se caminhamos para o sonho de uma união ou para novos ciclos de confronto.
José Milhazes deslindou o sonho e como esse o traiu. Nessa senda, alarma as futuras gerações do momento bélico que o mundo atravessa: «vocês ainda poderão ir todos para a tropa». Dentro do seu pessimismo e receios, aponta o dedo aos políticos que «não aprendem nada com a história». Pede mesmo que os jovens «virem a política de pernas para o ar», contudo, refere, que é fundamental «sonhar com os pés no chão».
Estas ideias marcaram a primeira edição da Leadership Next Gen, que aconteceu ontem, na NOVA SBE, em Carcavelos. O mundo que herdámos, o mundo que sonhamos trouxe ao palco uma conversa entre o jornalista e comentador político e Maria Castello Branco, comentadora da CNN Portugal, cruzando experiências, memórias e perspetivas sobre o futuro.
O evento confirmou-se como a maior iniciativa nacional dedicada à liderança jovem, reunindo participantes entre os 15 e os 25 anos e um programa completo que combinou talks inspiradoras, debates e momentos de interação.
Sob o tema The Game of Leaders – New Rules for Politics, Earth, AI and Humans, o encontro teve como objetivo principal levar conhecimento aos jovens, dar-lhes voz sobre os temas que mais os inquietam e capacitá-los para liderar e ser liderados num mundo em constante mudança.
Os jovens são o futuro da liderança
Maria Castello Branco prosseguiu comparando a ‘geração à rasca’ com a ‘gen Z’. A última, diz, é «a mais politizada de sempre e conta com enésimos desafios pela frente». Não menos importante é a falta de identificação dos jovens com os partidos da nossa democracia e José Milhazes explica porquê: «a corrupção, a impunidade, têm dinheiro escondido nas estantes, roubam, fazem o que querem. É uma república das bananas. E as bananas estão podres».
Por fim, Maria Castello Branco pediu aos jovens que votem, e que esse privilégio «é recente, indispensável e vital». Ainda assim, José Milhazes lançou uma última convicção: «este é o melhor país do mundo, mas extremamente mal gerido».
O evento confirmou-se como a maior iniciativa nacional dedicada à liderança jovem, reunindo participantes entre os 15 e os 25 anos e um programa completo que combinou talks inspiradoras, debates e momentos de interação.
Sob o tema The Game of Leaders – New Rules for Politics, Earth, AI and Humans, o encontro teve como objetivo principal levar conhecimento aos jovens, dar-lhes voz sobre os temas que mais os inquietam e capacitá-los para liderar e ser liderados num mundo em constante mudança.

«As necessidades dos jovens são variadíssimas. Temos de olhar para todas as camadas»
A conversa com Carla Rodrigues, Secretária de Estado Adjunta da Juventude e Igualdade, inaugurou o palco da Leadership Next Gen. A conversa A porta está aberta: sair atrás dos sonhos ou ficar? contou com a moderação de Leonor Wicke, coordenadora editorial da Revista Líder, e trouxe destaque à fuga de talento jovem do país. A verdade é que os números não mentem: já 30% dos jovens nascidos em Portugal escolheram abandonar o país.
A mensagem é clara: «O importante é que os jovens tenham liberdade para decidir: se querem sair ou ficar. E não serem obrigados por falta de condições». Carla Rodrigues defende que esta lacuna deve ser colmatada pelo Governo, envolvendo os setores público e privado. «O importante é que os jovens tenham liberdade para decidir: se querem sair ou ficar. E não serem obrigados por falta de condições», remata.

Carla Rodrigues deixou a mensagem bem clara — a prioridade do Governo é garantir que a escolha dos jovens não nasce da carência, mas da vontade. A Secretária de Estado sublinhou que «o Governo estabeleceu a juventude como prioridade. Daí ter sido criado um ministério com esse propósito». Mas não se ficou pela retórica: «O Governo não faz nada sozinho. Envolve autarquias locais, mas também o setor privado. As políticas têm de ser transversais».
No retrato que traçou da geração que agora chega ao mercado de trabalho, destacou a mobilidade e a pluralidade: «os jovens gostam de ter várias dinâmicas e experiências. Quase ninguém quer ficar no mesmo emprego a vida toda». E deixou ainda um aviso de abrangência: «As necessidades dos jovens são variadíssimas. Temos de olhar para todas as camadas».
Foi um arranque marcado pela promessa de abertura: portas escancaradas para que os jovens possam escolher os seus caminhos — dentro ou fora, mas sempre com condições.
O que a sociedade espera dos jovens
Na sessão The New Generation of Leaders, o futuro foi colocado em cima da mesa: que líderes queremos, que mundo estamos a construir e como se preparam os jovens para os desafios que chegam com a mesma velocidade da tecnologia.
Pedro Oliveira, Dean da NOVA SBE, abriu o debate com duas perguntas simples e cortantes: «O que espera a sociedade de vocês?» e «acham que os jovens vivem amargurados com a tecnologia, e que esta lhes pode tirar o emprego?»
As respostas vieram sem rodeios. Luís Vasconcelos, estudante do 12.º ano, lembrou que antes da competência académica ou profissional, há algo mais básico: «o essencial é sermos boas pessoas». Reconheceu que a inteligência artificial preocupa — «a técnica é muitas vezes superior à nossa» — mas também apontou a diferença fundamental e onde se inferioriza: «uma dessas coisas é a empatia. Só nós abraçamos, as máquinas não». Já Melissa Figueiredo, também no 12.º ano, destacou a necessidade de unir técnica e humanidade: «a componente social anda de mãos dadas com a técnica. Por exemplo, as soft skills e também sermos visionários».

No fim, deixou a frase que arrancou aplausos: «não vou levar a minha profissão para a cova, mas sim as experiências e momentos de partilha».
Foi esse o tom da sessão: a geração que cresce entre algoritmos não se rende às máquinas. O futuro pede mais do que eficácia — pede humanidade.
As carreiras e o futuro têm de ser paixão
O programa prosseguiu com uma série de flash talks e sessões inspiradoras, incluindo a Segue a tua chama: como transformar paixão em carreira, de Rita Lima, Sustainability Analyst da Zurich. Trouxe dicas para encontrar um trabalho que nos apaixone, com uma forte tónica na importância de dar de volta à sociedade, criando espaço para voluntariado e formações.

Why we choose the jobs we do and trends for the future, de Steve Morrison, Talent Acquisition Manager Tech da Signal AI, pôs a tónica nas necessidades humanas. Para tal, relembra a Pirâmide de Necessidades de Maslow e considera que também no mundo laboral se aplicam conceitos semelhantes. Da base até ao topo, são eles: salário, segurança no trabalho, pertença social, valor e reconhecimento e, por fim, propósito. «Quando forem a uma entrevista de emprego, façam tantas perguntas quanto vos estão a fazer. Perguntem tudo», conclui.

Depois destas apresentações, os participantes puderam aproveitar o coffee break para fazer networking. O regresso ao auditório ficou marcado pela talk Life’s a game: descomplica e desbloqueia a tua criatividade, que fez do gaming o foco da conversa. Thiago Barrionuevo, CEO e Founder da Cuboo Experience, relembrou que a criatividade reina em todo o tipo de jogos e que «a vida é um jogo e nós somos a personagem principal».

O encontro contou também com intervenções globais, como Global Shapers com Felso Ganhane e Joon Baek, Founder Youth For Privacy na Engineer Google, explorando formas de ação e mudança numa era marcada pelo caos e pelos desafios sociais.

Já na esfera da política, a conversa Democracia e Juventude, moderada por Vasco Galhardo Simões, fundador ‘Eu Voto’, destacou o baixo envolvimento dos jovens portugueses nos processos de participação política tradicional, com a presença de João Pedro Louro, Presidente da Juventude Social-Democrata e Sofia Pereira, Secretária-Geral da Juventude Socialista.
João Pedro Louro afirma que «a juventude quer ser ouvida» e é «preciso abrir espaço para que os jovens possam dar o seu contributo». Precisamente por, segundo Sofia Pereira, os jovens estarem interessados. «Não deixem que vos calem. Quando temos de ‘pôr o pé na porta’, não há hierarquia ou idade que nos possa parar», reflete.

Para fechar, Sérgio Cardoso, Chief Education Officer e Administrador da Academia Doutor Finanças, provocou reflexões sobre finanças pessoais na flash talk Como perder o Euromilhões em 5 passos e destacou que «o dinheiro é uma parte incontornável da nossa vida mas que não deve ser uma finalidade».

No balanço final, a Leadership Next Gen mostrou-se não apenas um espaço de aprendizagem, mas também de inspiração e diálogo entre gerações, reforçando a importância de capacitar os jovens para enfrentar os desafios do século XXI com visão, criatividade e coragem.
Tenha acesso à galeria de imagens aqui.
Todos os momentos da Leadership Next Gen estão disponíveis na Líder TV e nos canais 165 do MEO e 560 da NOS.