Christopher Lasch (1932-1994), um professor da Universidade de Rochester, escreveu obras importantes duas das quais acabam de ser publicadas em Portugal, ambas pela Relógio d’Água. Os seus livros merecem ser lidos como descodificadores daquilo que se está a passar nos EUA e no ocidente.
A rebelião das elites e a traição da democracia, de 1995, defende que a democracia está a ser traída pelas elites, globalistas, nomádicas e isoladas em bolhas bem-pensantes. Essas elites, que nesta eleição se arregimentaram atrás de Kamala Harris, vivem as suas existências em redomas desligadas. Explica Lasch que os regimes de bem-estar e as conceções higiénicas elitistas resultam em ambientes asséticos, livres de fumo, do chamado discurso de ódio de outros malefícios. Por saberem o que é bom, as elites procuram impor a sua visão moralista àqueles que sabem menos. O resultado é a revolta dos “deploráveis”, como lhes chamou Hillary Clinton, representados por Trump, ele próprio um elitista não convencional.
A cultura do narcisismo (1979) discute outra mudança social: a emergência de uma cultura em que a culpa dá lugar à ansiedade, uma obsessão com o sentido da vida, a negação do passado: “a negação do passado, superficialmente progressista e otimista, é afinal, quando vista mais de perto, a expressão do desespero de uma sociedade incapaz de encarar o futuro.” Este mundo de narcisistas frágeis encontra nas redes sociais o veículo para uma vida feita de “experiências” geradoras de uma felicidade forçada e superficial, conforme revelado pela nova epidemia de doença mental.
Eis um par de livros que casa bem com esse outro monumental contributo de Jonathan Haidt, A geração ansiosa. Ler para compreender.
P.S. Lê-se e não se sabe se é para acreditar que Harvard, Princeton e outras universidades cancelaram aulas para que os estudantes pudessem recuperar dos blues provocados pela vitória de Trump. Curiosas elites as nossas, curioso entendimento da democracia…