Em dezembro de 2020 um relatório da Small Business coloca Portugal em primeiro lugar nos países europeus em situação de Burnout. E a McKinsey publica um relatório sob o título “Mental health in the workplace: The coming revolution”. E se achamos que o tema se cinge à população adulta, em 2021 uma pesquisa com 8000 crianças levou a Oxford University Press a nomear a ansiedade como a “palavra do ano”. Em 2021, o mercado do bem-estar tinha um valor estimado pela McKinsey de 1,5 mil milhões de dólares, com potencial de crescimento de 10% ao ano.
O tema Saúde Mental é um hot topic e as organizações acompanham a tendência criando programas de bem-estar, introduzindo no seu dia-a-dia sessões de saúde mental, alimentação saudável, qualidade do sono, mindfulness e yoga, psicologia positiva, resiliência. Disponibilizando aplicações para a gestão da saúde mental, consultas de psicólogo gratuitas, etc. E está certo assim. A importância destes conteúdos é evidente para a saúde das pessoas e por consequência para a sua produtividade. Será suficiente? Não! Arrisco dizer que de nada servem sem uma “boa” liderança – mais humana e humanista, autêntica, honesta, direta, focada no indivíduo, nas suas expectativas, nos seus desejos, receios, angústias.
Num estudo recente da consultora McKinsey a (boa) qualidade da relação com a liderança é o principal fator no nível de satisfação dos trabalhadores e a segunda variável mais importante no seu estado de bem-estar geral. Adicionalmente, a consultora O.C. Tanner também demonstrou que reuniões individuais frequentes, tempo dedicado a cada pessoa, têm por consequência um aumento de 54% no nível de compromisso, 31% na produtividade e uma redução de 15% em burnout e de 16% em depressão.
O papel da liderança é crítico e essencial para a qualidade da vida de cada pessoa. E esse papel, hoje, quer-se mais próximo, empático e compassivo, mais humano. Estão as lideranças preparadas para tal? Percebem qual é o seu papel e reconhecem a sua importância? Têm tempo para as pessoas?
As mudanças nos modelos de trabalho que a Pandemia acelerou trouxeram desafios adicionais. Apesar de a tecnologia permitir trabalho remoto e de base flexível, em muitos setores, com evidentes benefícios para a qualidade de vida e até para a sustentabilidade ambiental, o “filtro” digital tem um efeito novo para o qual estamos mal preparados. Foi (e continua a ser) necessário aprender a anular o efeito “frio” e distante que esse modelo provoca, procurando formas de comunicar com sentido humano, onde as expressões, as palavras com significado e a consistência entre o que é dito e o que é feito são agora ainda mais importantes.
É uma prioridade da liderança cuidar de cada pessoa da sua equipa. Hoje, mais do que nunca, a proximidade, ligação ao indivíduo é mais do que desejável, é uma necessidade para que o coletivo funcione.
Apesar de parecer um paradoxo, acredito que essa proximidade individual, num mundo em que estamos mais afastados, é a chave para chegar ao coletivo, ou seja, o elevado nível de qualidade de uma equipa é conseguido com esse trabalho focado num bem-estar holístico de cada um dos seus membros.
Este artigo foi publicado na edição de verão da revista Líder. Subscreva a Líder AQUI.