Há pessoas que não ligam a mapas e outras que os acham objetos fascinantes. Eu faço parte da segunda categoria. Os livros de mapas, os atlas, constituem normalmente belos objetos. Para os apreciadores, tem vindo a ser publicada uma coleção – Atlas, cá está – que satisfaz este gosto e que ajuda a descodificar o presente e o passado e a imaginar o futuro.
Só com a ajuda de mapas conseguimos compreender um pouco melhor a situação no Kosovo, por exemplo. Belgrado disse há pouco que nunca reconhecerá a independência do território, que declarou unilateralmente a sua independência em 2008. A situação no território é permanentemente conflitual e um pico de tensão teve lugar no fim do ano passado. Se mesmo na antiga Jugoslávia multiétnica, algumas minorias, como os judeus, foram tratadas como potenciais traidores da nação, as identidades nacionais, complexas, nem sempre coincidem com as fronteiras.
Dois volumes, Atlas das Fronteiras e Atlas do Mediterrâneo, têm-me ajudado a compreender esta nossa Europa tão conturbada. Acompanhar a evolução das fronteiras é uma forma de verificar que aquilo que nos parece estável, nomeadamente a partir deste retângulo de estabilidade no canto ocidental, não passa de uma gota de água num permanente oceano de mudança. A guerra na Ucrânia e as tensões no Kosovo não são mais que repetições de processos deste nosso mundo em que o redesenho das fronteiras se fez com sangue e destruição. O processo de separação da Checoslováquia foi uma exceção e não uma nova regra. Na altura talvez não nos tenhamos apercebido, mas esta trágica realidade tornou-se clara de novo.