O Financial Times acaba de revelar, usando registos, entrevistas e tecnologias de reconhecimento facial, que as crianças ucranianas raptadas pelos russos durante a invasão estão a ser entregues para adoção num site ligado ao governo. Estas crianças são identificadas com nomes russos e com dados oficiais que não coincidem com os verdadeiros. As suas idades no momento do rapto iam dos oito aos quinze anos.
Se mais argumentos fossem necessários para não esquecermos o que está em causa no leste da Europa, este crime horrendo mostra-nos a natureza do regime que os defensores da paz insistem em compreender. Continuo a estranhar ser possível não tomar partido na guerra da Ucrânia – como se estivessem em causa responsabilidades equivalentes – ao mesmo tempo que parece tão fácil tomar partido na Palestina, como se aí não houvesse responsabilidades partilhadas.
É em cima destes dilemas morais que construímos uma Europa que parece ter esquecido o perigo dos líderes autocráticos e messiânicos. E, no entanto, eles andam aí e estão fortes. Como recentemente explicou Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, a um entrevistador, “Deus enviou-me com um propósito”. Perdeu força eleitoral há umas semanas, numa demonstração de que a democracia continua a ser a melhor maneira de destituir autocratas.
PS “Passamos numa rua, parece estar tudo bem, mas depois somos apanhados num tiroteio – as metralhadoras e especialmente os drones – eliminam tantos soldados. E os comandantes no rádio continuam a gritar: ‘Em frente!’ Não se pode recuar. Quando restarem cinco ou dez pessoas em cada grupo, talvez nos deixem recuar”, diz”. Quem diz é o soldado russo Anton Andreev. Dos 100 homens da companhia de Anton, deverão restar 12. Vinha no Público de dia 18 deste junho.