Os homens do terror é o título de um livro de Hans Magnus Enzensberger. O livro é de 2006 e foi por cá editado em 2008 pela editora Sextante. É o género de trabalhos que parece premonitório porque diz aquilo que se torna claro muito tempo depois – tal como os livros de Christopher Lasch, de que aqui falei há uma semana. Não é um livro politicamente correto, o que o torna mais interessante.
No coração da discussão estão os homens do terror, a que o autor chama perdedores radicais, pessoas que explicam o mal do mundo com base nos outros. Vêm de grupos que ficaram para trás e culpam os outros por não terem andado para a frente, nomeadamente no caso do mundo islâmico, supremo exemplo de um universo de sofisticação (basta uma visita ao Alhambra para a admiração ser eterna) que se deixou ultrapassar. Como escreveu um autor iraquiano referido por Enzensberger, “se um árabe tivesse descoberto no século XVIII a máquina a vapor, ela nunca teria sido fabricada”. Encontramos estes homens do terror na Alemanha nazi e nas “cáfilas” (sic) destrutivas que querem corrigir os males do mundo, embrulhando-se em ideologias de extrema-esquerda e de extrema-direita.
E eis como em 2006 o autor explica o que hoje se descortina: “até sociedades liberais como a holandesa tiveram de aprender que as táticas de remissão dos ressentimentos e de atenuação dos conflitos com os migrantes hostis, em vez de os reprimir, agudiza-os. Favorecem a ascensão de partidos de direita populistas e a escalada da violência”. A conclusão: como dizia Popper a única coisa intolerável é a intolerância. A nossa, claro, mas também, a do Outro.