Em 2070, Portugal atingirá previsivelmente uma significativa percentagem de população com pelo menos 60 anos (39,21%), segundo dados do Eurostat. Aos dias de hoje, a população portuguesa necessita de respostas de combate à pobreza e promoção do envelhecimento ativo.
O impacto do envelhecimento, a proteção financeira na velhice e o acesso dos idosos a cuidados de saúde foram analisados num novo estudo. O ‘Relatório de Envelhecimento’ elaborado por Pedro Pita Barros e Carolina Santos, foi realizado no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE.
Principais conclusões
Impacto do envelhecimento na despesa em saúde
O impacto do envelhecimento na despesa em saúde depende da evolução do perfil de morbilidade e do aumento da esperança média de vida. Segundo o estudo, a meta é alcançar um cenário de compressão da morbilidade, onde vidas mais longas e saudáveis reduzem a necessidade de cuidados de saúde intensivos nos últimos anos de vida.
Controlar a morbilidade na população idosa pode indiretamente controlar as despesas em saúde, ao limitar a procura por cuidados de longa duração e atenuar a pressão sobre os salários dos profissionais de saúde.
Proteção financeira na velhice
Portugal é um dos países da OCDE onde as despesas diretas em saúde representam uma maior percentagem da despesa total dos agregados familiares, os idosos (especialmente mulheres, pessoas que vivem sozinhas e aqueles com menores rendimentos e escolaridade) enfrentam uma grande desproteção financeira, destinando uma grande parte do seu rendimento a despesas de saúde.
Esta situação agrava a pobreza e o risco de pobreza entre os idosos, sendo por isso necessário reforçar a proteção financeira para despesas de saúde entre os idosos, ampliando apoios aos grupos socioeconómicos mais desfavorecidos, para corrigir a regressividade atual das despesas diretas em saúde.
Acesso dos idosos a cuidados de saúde
As análises demonstram que as barreiras de acesso a cuidados de saúde entre idosos não são determinadas pela idade, mas por características socioeconómicas, como nível de educação e rendimento.
Os idosos, especialmente os de estratos socioeconómicos mais baixos, têm uma maior desproteção financeira, alocando uma grande parte do seu rendimento a despesas de saúde, principalmente medicamentos.
Envelhecimento ativo
Embora Portugal venha a investir em políticas para melhorar a qualidade de vida dos idosos, comparações internacionais mostram que ainda são necessárias melhorias significativas. Não considerando o fator emprego (participação das pessoas com 60 e mais anos no mercado de trabalho), indicador que mais contribui para o menor Índice de Envelhecimento Ativo (IEA), verifica-se que os indivíduos com 60+ apresentam um bom desempenho em termos de participação na sociedade, independência, saúde e segurança.
Reforma e acesso a cuidados de saúde
A saída do mercado de trabalho pelos indivíduos que transitam para a reforma, não afeta nem a sua saúde nem a utilização de cuidados de saúde.
A pandemia da solidão
A solidão é um fenómeno que silenciosa, mas sustentadamente, tem vindo a ganhar relevância nos países desenvolvidos e o seu impacto na saúde e nos custos que lhe estão associados requer que os sistemas de saúde priorizem estratégias de combate ao flagelo que é a solidão.
Portugal deve-se focar não apenas em promover o envelhecimento ativo e saudável das pessoas mais velhas, mas também implementar, entre adultos mais jovens (40-59 anos), estratégias indutoras de melhores níveis de saúde, segurança e participação na sociedade através de atividades não remuneradas. Será necessário promover respostas sociais que combatam a pobreza, continuar a apostar em políticas que permitam à população idosa participar no mercado de trabalho de forma realizada, garantir que as cidades e habitações estão adaptadas à mobilidade de pessoas de mais idade e criar mecanismos que controlem o flagelo que é a solidão.
Pedro Pita Barros e Carolina Santos, investigadores do estudo



