Num mundo onde a mudança é a única constante, as empresas que dominam a arte da transformação não se limitam a escolher entre impacto global ou reinvenção total. Elas abraçam os dois. A instabilidade económica, a concorrência feroz de novos players digitais e a crescente exigência por práticas ambientais, sociais e de governação (ESG) estão a redesenhar o campo de jogo. As organizações que saem na frente não se contentam com cortes de custos ou ajustes cosméticos. Elas reescrevem o guião, repensam o modelo de negócio e colocam o cliente, os colaboradores e o impacto social no centro da estratégia.
Um estudo recente da McKinsey sobre resiliência empresarial revela que, em tempos de incerteza, os líderes mais bem-sucedidos não se limitam a defender o terreno. Eles atacam, procurando oportunidades onde outros veem apenas riscos. Estas empresas vão além da eficiência operacional: reinventam-se, apostando em novos negócios, tecnologia de ponta e modelos operacionais que privilegiam a agilidade. O resultado? Crescimento sustentável, maior retorno para os acionistas e uma pegada positiva na sociedade.
Qual é o pulso da sua transformação?
Medir o sucesso de uma transformação não é tarefa fácil. Muitas falham, e as que vingam raramente atingem o patamar das chamadas ‘transformações renovadoras‘ – aquelas que multiplicam o valor inicial projetado e garantem crescimento a longo prazo. Para ajudar as empresas a perceberem onde estão e para onde vão, foi desenvolvido o Transformation Speedometer, uma ferramenta que avalia a maturidade de uma transformação com base em dez dimensões, divididas entre performance holística (finanças, saúde organizacional, talento, experiência do cliente e impacto ESG) e reinvenção do negócio (modelo operacional, portfólio de negócios, estratégia e tecnologia).
Esta abordagem permite às lideranças identificar pontos fortes, lacunas e prioridades. É um raio-X que revela o que está a funcionar e o que precisa de um empurrão. E, ao contrário do que se possa pensar, até as organizações mais robustas têm áreas a melhorar. O segredo? Não é tentar ser perfeito em tudo, mas sim agir com ousadia em algumas frentes estratégicas.
O que faz uma transformação brilhar?
As empresas que transformam com sucesso partilham cinco traços distintivos:
- Sonham alto: Estabelecem metas ambiciosas, gerando até 2,7 vezes mais valor do que o previsto.
- Atacam em várias frentes: Mais de metade do valor vem de iniciativas de receita, não apenas de cortes de custos.
- Movimentam-se rápido: Cerca de 75% do valor é capturado no primeiro ano.
- Valorizam o pequeno: 55% do impacto vem de iniciativas modestas, que representam menos de 0,5% do potencial total.
- Mudam a cultura: Criam um ambiente que incentiva a inovação, triplicando o retorno para os acionistas.
Além disso, as ‘transformações renovadoras’, que representam apenas 5% do total, vão mais longe. Elas reinventam o core business com recurso a digital e analytics, criam novas fontes de receita e desenham modelos operacionais centrados na velocidade e inovação. O resultado é um impacto 4,5 vezes superior ao das transformações comuns.
Um olhar sobre Portugal: Empresas que transformam
Em Portugal, a transformação empresarial é um motor de competitividade num mercado pequeno, mas cada vez mais global. A Sonae, por exemplo, tem reforçado a sua presença no e-commerce e investido em analytics para personalizar a experiência do cliente, enquanto expande o portfólio para áreas como saúde e tecnologia, segundo o Relatório Anual da Sonae 2024. A Galp, no setor energético, está a liderar a transição para fontes renováveis, com projetos de hidrogénio verde e energia solar que reforçam o seu compromisso com metas ESG, conforme destacado no Plano Estratégico de Sustentabilidade da Galp.
Já a Critical Software, uma referência em tecnologia, tem crescido através de parcerias internacionais e soluções de cibersegurança, mantendo a agilidade de uma empresa média num setor dominado por gigantes, como reportado no Portugal Digital Summit 2023. Dados da McKinsey Portugal indicam que empresas lusas que adotam transformações renovadoras crescem, em média, 20% mais em receita anual do que as que se limitam a ajustes incrementais.
Ferramentas para liderar a mudança
O Transformation Speedometer é mais do que um termómetro. É um guia para os líderes que querem respostas concretas a perguntas complexas: como alocar recursos entre o negócio tradicional e novas apostas? Como equilibrar escala rápida com transformação faseada? Como transformar exigências ESG em valor tangível? A ferramenta atribui uma pontuação de 0 a 100, com base nas dez dimensões mencionadas. Empresas abaixo de 60 estão atrasadas; entre 60 e 80, têm um desempenho sólido; acima de 80, entram no clube exclusivo das “transformações renovadoras”.
Por exemplo, um retalhista global analisado pela McKinsey destacou-se em performance financeira, mas ficou aquém em experiência do cliente e ESG. A solução passou por investir em analytics e capacidades digitais, modernizando lojas e agilizando a tomada de decisões. De forma semelhante, uma fabricante de equipamentos, com forte performance holística, percebeu que precisava de acelerar a inovação. Assim, apostou em analytics para antecipar tendências e expandiu canais de venda, reduzindo o tempo de chegada ao mercado.
Transformar é agir
O Transformation Speedometer não é uma varinha mágica, mas um catalisador de decisões. Nesse sentido, ele mostra que a perfeição em todas as dimensões é uma miragem – o que importa é priorizar e agir com coragem. Para os líderes, é uma oportunidade de alinhar equipas, definir metas claras e monitorizar o progresso. Por exemplo, a dimensão de analytics é frequentemente subvalorizada, mas, quando priorizada, pode desbloquear valor em áreas como personalização do cliente e eficiência operacional.
Como dizia Ayrton Senna, «na chuva, é mais fácil ultrapassar». As empresas que encaram a incerteza como uma oportunidade para se reinventarem – equilibrando performance holística e inovação – não só sobrevivem, como prosperam. Num mundo em constante mudança, transformar não é uma opção. É a única forma de garantir que o futuro, chova ou faça sol, seja sinónimo de sucesso.