Os gestores de micro e pequenas empresas conhecem bem o que é viver em modo de sobrevivência. Os custos não param de aumentar, os clientes estão mais cautelosos, o acesso a talento é difícil e o financiamento escasseia. E, no meio disto tudo, a pressão da concorrência é constante. Mas será que faz sentido continuar a enfrentar tudo isto sozinho?
Durante demasiado tempo, fomos ensinados que só os mais fortes — ou os mais rápidos — sobrevivem. E que a concorrência é o único caminho para crescer. Mas a realidade, para quem está no terreno, é outra: competir ferozmente com empresas que enfrentam os mesmos problemas raramente traz resultados. Pelo contrário, esgota recursos, comprime margens e impede o investimento necessário para inovar e crescer.
A verdade é simples: é muito mais difícil para uma micro e pequena empresa crescer sozinha. Mas, em conjunto, podem mover montanhas.
Cooperar não significa abdicar da identidade. É usar inteligência estratégica para fazer mais com menos, com outros ao lado. Pode significar compras conjuntas para reduzir custos, partilha de tecnologia ou talento, desenvolvimento de marcas em parceria, abertura de novos mercados em consórcio ou criação de redes de vendas regionais. São soluções reais que funcionam — e estão ao alcance de todos.
Na Europa do Norte, este espírito de colaboração já faz parte da cultura empresarial. Na Dinamarca, Suécia ou Finlândia, pequenas empresas trabalham em conjunto para exportar, inovar ou ganhar concursos públicos. Concorrência e cooperação não se excluem: competem onde faz sentido e colaboram onde há mais a ganhar. E ganham em produtividade, reputação, inovação e resiliência.
Portugal precisa de seguir esse caminho. E isso só será possível com uma mudança de mentalidade. Olhar para o vizinho empresarial não como um rival, mas como um aliado. Trocar a reinvenção solitária pela procura ativa de soluções em rede. Organizar-se, criar grupos, integrar ecossistemas. Ser parte de algo maior, sem deixar de ser quem é.
O momento exige mudança. Há demasiadas micro e pequenas empresas a remar sozinhas contra a maré. Criar alianças, formar redes e desenhar estratégias colaborativas pode ser a diferença entre estagnar e prosperar.
O futuro das MPEs portuguesas não passa por competir umas contra as outras, mas por construírem juntas soluções que nenhuma conseguiria alcançar sozinha. Porque hoje, mais do que nunca, cooperar é competir com inteligência.