“Human-Centered Leadership” é a principal tendência apontada pelos líderes para 2023, o que considera uma liderança mais autêntica, com foco em políticas de flexibilidade e aposta no desenvolvimento de valor acrescentado.
De acordo com as sete tendências de liderança identificadas pelo estudo global Boyden Leadership Trends, são os líderes mais jovens e em empresas de pequena e média dimensão, quem dá mais importância ao investimento em práticas de liderança mais humanistas, quando comparado com líderes em grandes organizações.
Manter a conexão apesar da distância
A tendência Freedom-Centric Culture destaca-se na segunda posição em termos de prioridade para 2023 – esta é uma liderança que inspira e encoraja a implementação de formas de trabalho que se adequam aos diferentes estilos de vida e expetativas profissionais e que contribui para o sucesso de cada colaborador.
Cerca de 70% dos líderes inquiridos consideram que implementar e desenvolver uma cultura de liberdade de escolha, passa por ter líderes que promovam uma cultura de responsabilidade individual; e que invistam em ferramentas e processos que promovam a colaboração, a comunicação e o trabalho remoto.
A dificuldade como oportunidade competitiva
Em terceiro lugar, os inquiridos apontam a tendência Beyond Resillience, ou seja, a capacidade de aproveitar os desafios para se diferenciar da concorrência, através de uma maior agilidade e capacidade de adaptação.
A maioria (70%) refere que é importante melhorar a comunicação e a colaboração, promover equipas autónomas e descentralizar as decisões (56,9%); criar um modelo organizacional e de gestão que promova agilidade (42,5%) e, ainda, promover uma cultura de tolerância ao erro (31,7%).
Reforçar o impacto do desenvolvimento de competências em 2023
Cerca de 10% dos inquiridos identificou a aprendizagem de alto impacto e valor acrescentado como a sua principal prioridade, aparecendo a tendência Impact Learning como a quarta tendência de liderança para 2023.
O desenvolvimento de programas de coaching e mentoria personalizados e o reforço de competências técnicas e relacionais, são algumas das soluções apontadas pelos líderes para obter maior valor acrescentado e impacto dos investimentos efetuados na área do desenvolvimento.
Em sintonia com a tecnologia e a inovação
A quinta tendência de liderança People-Technology Link, surge como um objetivo transversal às lideranças, e essencial para assegurar a competitividade e o sucesso dos negócios numa era de transformação digital. De acordo com o estudo, as estratégias que mais contribuem para a fluência digital são: o acesso e incentivo de ferramentas de comunicação e colaboração digitais, o treino e capacitação em competências tecnológicas e a atração e desenvolvimento de líderes com competências digitais.
Líderes terão papel decisivo em organizações mais sustentáveis e inclusivas
Em sexto e sétimo lugares, surgem duas tendências relacionadas com políticas de ESG e DEI – Responsible Businesses e Diverse Leadership Bench, respetivamente. Segundo o estudo, os líderes acreditam na importância de assumir posições de responsabilidade perante um vasto leque de stakeholders, promover a transparência e o propósito com um grande foco na sustentabilidade social, ambiental e financeira, bem como a promoção de uma liderança mais inclusiva.
Um número significativo de inquiridos considera prioritário desenvolver negócios de forma responsável e com um impacto positivo na sociedade e no mundo. Neste caso, são os líderes seniores, provenientes de empresas de grande dimensão da Europa e América do Norte, quem dá mais importância a estas práticas de liderança.
No entanto, mais de 60% dos inquiridos refere que há uma escassez de urgência e de promoção destas políticas por parte da liderança de topo, e, ainda, pouco entendimento sobre os benefícios destas práticas, uma fraca aposta na formação sobre as mesmas, e um desajuste das métricas de diversidade, equidade e inclusão (DEI).
O foco numa liderança humanista e que promova uma maior liberdade de escolha por parte dos colaboradores, foram muito valorizadas no nosso estudo. Durante a pandemia, líderes com maior capacidade de ajustar as suas formas de trabalho às necessidades específicas das suas equipas conseguiram uma valorização do seu papel e uma diferenciação positiva. Curiosamente, a importância de uma cultura centrada na liberdade revela também uma tensão paradoxal com a expetativa de uma liderança humanista. Existe uma necessidade de pertença e conexão, mesmo em contextos de trabalho remoto e virtual. Esta ambiguidade pressiona a responsabilidade individual e traz mais complexidade à liderança.
Katia Pina, Head of Global Center of Excellence da Boyden
É uma oportunidade única conseguirmos recolher uma tão vasta diversidade de insights sobre liderança. Os dados recolhidos neste estudo poderão ajudar os líderes a ter uma percepção mais concreta das necessidades das pessoas e das suas organizações, preparando-se para 2023 e assegurando que conseguem prosperar num contexto de incerteza e constante mudança, mantendo o bem-estar das suas equipas e o sucesso dos seus negócios. Parece haver uma consciência cada vez mais clara dos líderes de que a vocação das suas empresas é, também, a de valorizar as suas pessoas. A capacidade de o fazerem terá um impacto muito positivo no desenvolvimento mais sustentável das suas organizações.
João Guedes Vaz, Partner e Global Head of Leadership Consulting