O escritor canadiano Robin Sharma, em O Monge que Vendeu o Seu Ferrari, considerou: «O sucesso exterior começa com o sucesso interior». Esta frase, tão evocativa quanto verdadeira, é o ponto de partida de uma reflexão urgente. Hoje, decidir deixou de ser uma mera opção entre A ou B – para se tornar um gesto político, ético e estratégico. Resgatar a metáfora do monge que trocou o Ferrari por sabedoria não é apenas falar de renúncia – é falar de reconexão com o essencial. E, nesse terreno, a gestão da mudança, a resiliência organizacional e o coaching emergem como forças convergentes da liderança contemporânea.
O mundo não espera. As organizações não sobrevivem se pararem para pensar demasiado. E, no entanto, o paradoxo é este: só as que pensam com profundidade é que conseguem decidir verdadeiramente. Segundo o Global Coaching Market Report, em 2024 o mercado mundial de coaching estava avaliado em cerca de 5,8 mil milhões, com projeção de crescimento para 6,8 mil milhões até ao final de 2025 – a uma taxa anual composta próxima dos 8%. Só no contexto do coaching executivo, estima-se que as empresas da Fortune 500 invistam anualmente 2,5 mil milhões de euros.
Mais impressionante ainda: 98% dessas organizações têm programas ativos de mentoria – e os resultados não enganam. Empresas com mentoring formalizado apresentam, em média, lucros 15% superiores às que não o integram nas suas estruturas de desenvolvimento interno.
Não se trata, portanto, de modas ou de tendências passageiras. Trata-se de sobrevivência lúcida e adaptação com propósito. Liderança é antes de tudo presença genuína, empatia e conexão real com aqueles a quem servem e influenciam. Influência que não se impõe, mas que se conquista pela autenticidade e pelo compromisso interior.
Entre o ruído e a clareza: a arte de decidir com alma
No momento em que escolheu deixar o Ferrari e abraçar uma existência de busca interior, o monge simbolizou o ato de decidir como renúncia – mas também como reencontro. É essa coragem que atravessa hoje os corredores das empresas e as salas onde se repensam modelos de negócio. E é através desse predicado que se cultiva a partir do coaching: não como técnica, mas como prática de revelação e fortalecimento.
No panorama corporativo contemporâneo, inúmeras organizações já provaram que a decisão consciente, aliada à liderança transformadora, pode salvar empresas à beira do colapso. A Lego enfrentou no início dos anos 2000 uma crise financeira profunda, quase a levar a empresa à falência. Foi através de uma reestruturação focada na cultura interna, liderança participativa e desenvolvimento dos colaboradores – muito próximo dos princípios do coaching e mentoring – que a marca dinamarquesa conseguiu, não só sobreviver, mas reinventar-se como um gigante global da indústria dos brinquedos.
O coaching, hoje, ajuda líderes a desmontar o ‘não posso’ para o substituir por um ‘vou decidir com plena consciência’. E essa consciência só se alcança quando o ruído cede à escuta, e o medo é enfrentado com humildade e visão. Numa era em que o excesso de informação asfixia, decidir tornou-se uma arte rara. O verdadeiro líder começa por escutar – primeiro a mente, depois o coração – e só então encontra a coragem de agir por inteiro.
Este artigo foi publicado na edição nº 31 da revista Líder, cujo tema é ‘Decidir’. Subscreva a Revista Líder aqui.

