Na parte final do mandato de Barack Obama, alguns analistas e observadores notaram que o então presidente dos EUA estava a ficar com mais cabelos brancos. Alegadamente, as suas cãs resultavam das agruras da função presidencial. Ficou por esclarecer se o efeito provinha do árduo exercício da função – ou dos anos que haviam passado e se refletiam no corpo e na mente do inquilino da Casa Branca. Obama estava, inevitavelmente, alguns anos mais velho. E a velhice costuma alterar a cor dos cabelos!
O tema não é, todavia, uma bizantinice. E tem sido alvo de investigação. Por exemplo, um estudo que envolveu 540 candidatos a eleição (ao longo de cerca de três séculos), em 17 países, concluiu que os candidatos eleitos tiveram vidas mais curtas após a eleição do que os derrotados. Uma possível explicação radica no stresse inerente à liderança e à vida política. O caso recente mais óbvio, que sustenta essa possibilidade, é o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky. Compare-se o seu rosto de hoje com o de há dois ou três meses, e as marcas são notórias. Mas o caso é extremo.
Acresce que há investigação sugerindo que, à medida que se desce na hierarquia social e laboral, a longevidade declina. As pessoas de menores recursos estão menos capacitadas para fruir de bons serviços de saúde. Vivem em condições materiais menos salubres. Realizam trabalhos fisicamente mais extenuantes. Desprovidas de poder, sofrem as agruras que lhes são impostas pelos poderosos. Simetricamente, as pessoas com poder dispõem de maior controlo sobre as suas vidas. Acedem a recursos e condições de vida mais favoráveis. Naturalmente, o seu caso complica-se quando confrontados com numerosas e longas viagens, horas de trabalho infindas, e múltiplas pressões.
Em suma: não será difícil encontrar casos e argumentos que sustentem diferentes interpretações sobre a matéria. Os resultados da investigação também são inconclusivos. Não há evidência perentória sobre se o poder é, ou não é, perverso para a saúde e a longevidade de quem o exerce. Tão ou mais importante do que a detenção de um cargo de poder é a condição, ou o contexto, em que esse poder é exercido. Há ainda uma terceira via interpretativa para descrever a realidade. Foi articulada por Brian Klaas, cientista político e professor na University College London. Klaas é autor de um livro (Corruptible: Who gets power and how it changes us) que discute, entre outras, uma questão clássica: é o poder que corrompe, ou são as pessoas corruptas mais atraídas para funções de poder? Em entrevista recente, baseando-se em estudos com babuínos, concluiu o seguinte: ascender na escada do poder é benéfico para a saúde e a longevidade, mas apenas até um certo degrau. A partir de determinado patamar, os riscos aumentam significativamente. Eis, do seu ponto de vista, a lição: é bom fazer parte da corte, mas é preferível não ser rei/rainha. Não estou certo de que Isabel II concorde!