O que antes era um papel meio cinzento, com números que poucos decifravam e muitos ignoravam, ganha agora nova vida: o recibo de vencimento entra na era da transparência. A BRP (Business Roundtable Portugal), com a ajuda tecnológica da SAP, está a dar corpo a um novo modelo de recibo que promete explicar o que muitos portugueses ainda não sabem — quanto é que, afinal, custa o seu salário à empresa.
Desde 2024, esta versão ‘recibo 2.0’ já chegou a mais de 90 mil trabalhadores. Agora, com a integração plena no sistema SAP Human Capital Management, está pronto a escalar: mais de 120 empresas clientes da SAP poderão ativar a funcionalidade, chegando a um universo superior a 226 mil trabalhadores em Portugal.
Assim, o dinheiro que entra na conta continua igual, mas o recibo passa a mostrar, de forma clara, quanto é que a empresa paga além do bruto. Por exemplo, a contribuição patronal de 23,75% para a Segurança Social, até agora ausente dos recibos tradicionais, passa a estar bem visível.
A diferença entre o que se paga e o que se recebe
Além disso, o novo recibo torna explícito o chamado tax wedge — a diferença entre o custo total suportado pela empresa e o salário líquido que chega ao trabalhador. Uma forma de abrir os olhos para a carga fiscal que pesa sobre os rendimentos do trabalho e de pôr mais informação nas mãos de quem a merece: quem trabalha.
A solução é simples de adotar por quem já trabalha com SAP: basta instalar uma nota de consultoria e ativar a nova configuração. Um passo técnico para os RH, um salto pedagógico para todos os colaboradores.
Para Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da BRP, «com o apoio da tecnologia, conseguimos ir além da simplificação administrativa. Promovemos uma mudança de cultura. Ao tornar visível o custo real do trabalho, contribuímos para um debate mais informado e para políticas públicas mais justas, que não penalizem os rendimentos nem travem a competitividade das empresas.»
Com esta iniciativa, a BRP pretende dar visibilidade a encargos fiscais e parafiscais que costumam passar despercebidos, mas que pesam — e muito — nas contas de empresas e trabalhadores. Num país onde o salário líquido muitas vezes não diz tudo, este recibo mais transparente quer lançar um desafio: mostrar o que está escondido e, quem sabe, dar início a uma conversa séria sobre a reforma fiscal que o país precisa.
Porque às vezes, para mudar o sistema, basta começar por mudar o papel.